O nome desta doença deriva do grego. A palavra art significa articulação e itis corresponde a inflamação. Esta patologia consiste numa inflamação articular que pode ser gerada por uma infeção, um depósito de cristais microscópicos que se soltam do sangue e atingem as articulações, como é o caso da gota com os cristais de ácido úrico. Para além disso, a artrite também pode, nalguns casos, ser desencadeada por mecanismos autoimunes complicados.
É o que acontece no caso da artrite reumatoide, uma das mais comuns. Em Portugal, existem, segundo as estimativas das autoridades oficiais, cerca de 70.000 doentes diagnosticados com artrite reumatoide, numa proporção de três a quatro vezes mais mulheres do que homens, em média. Apesar de não ser uma doença hereditária, alguns genes são responsáveis por uma maior tendência para desenvolver a patologia e por torná-la ainda mais grave do que é.
Para além disso, muitos pacientes não sentem qualquer tipo de melhoria com os fármacos habituais. Além dos adultos, a Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas (LPCDR) diz que uma em cada 1.000 crianças poderá, no futuro, desenvolver artrite idiopática juvenil. "Devidamente tratadas, cerca de 50% das crianças com doença reumática crónica atinge a idade adulta sem limitações articulares significativas", garante, contudo, este organismo.
As principais causas
Estas são as mais comuns:
- Infeção
Geralmente causada por bactérias ou vírus. É possível que um germe, ao qual quase toda a gente está exposta, faça com que o sistema imunológico reaja de forma anormal em indivíduos mais susceptíveis a contrair artrite reumatóide.
- Doença autoimune
O sistema imunitário, que tem uma ação protetora, reage contra o próprio organismo, por achar que uma parte dele é estranha, causando inflamação e consequente dano. Com a propagação da inflamação, e caso esta não seja controlada atempadamente e de forma consistente, surge o desgaste e deterioração geral das articulações.
Os sintomas mais comuns
Estes são os que os especialistas tendem a apontar mais:
- Dor e inflamação articular
De acordo com Austusto Faustino, entrevistado pela Prevenir, há uns anos, enquanto presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR), "ao contrário da artrose, em que a dor articular tem um ritmo mecânico, aqui a dor tem um ritmo inflamatório", sublinha este especialista. "Agrava-se com a imobilização e faz-se sentir mais depois de períodos de imobilização", refere.
"Agrava-se, muitas vezes, em especial durante a noite , podendo mesmo levar o doente a acordar, mas também é normal agravar-se de manhã, ao levantar", sublinha o médico. Estes sinais físicos da artrite são causados pela inflamação do revestimento interno, a membrana sinovial das articulações, "a membrana que alimenta, protege e cobre as cartilagens", esclarece o especialista.
- Rigidez
É sentida, sobretudo, de manhã, e é igualmente causada pela inflamação da membrana sinovial. A rigidez vai desaparecendo à medida que o paciente vai exercendo a sua atividade diária normal.
- Calor intenso e rubor em redor da zona afetada
São causados pela inflamação persistente.
Os tratamentos disponíveis
Apesar de não existir uma cura definitiva para esta doença, ao contrário do que seria desejável pela comunidade médica internacional, há várias terapêuticas que podem manter sob controlo a sua atividade inflamatória, fundamentalmente medicamentos. E, mesmo nos casos mais avançados e mais graves, existe sempre a possibilidade de se recorrer à reabilitação e, nos casos mais graves, à cirurgia, asseguram especialistas nacionais e internacionais.
A definição do tratamento depende da particularidade da fase de evolução da doença e da gravidade da patologia, mas é fundamental iniciar-se o mais rapidamente possível, para prevenir lesões articulares incapacitantes e irreversíveis. Segundo o Jornal Médico, falhas na rede de referenciação hospitalar estão na origem da falta de diagnóstico em reumatologia. Estes são os tratamentos que, quando identificado o problema, os especialistas prescrevem:
- Terapêutica farmacológica
O recurso a anti-inflamatórios, para combater a dor e a inflamação, que poderão ser utilizados em qualquer fase da doença, são muito comuns. Além desses podem ser administrados corticosteróides, vulgarmente designados por cortisona, que em doses baixas e com cuidados adequados possibilitam um excelente complemento à redução da inflamação.
Para além disso, também permitem o controlo da evolução da doença, sem efeitos adversos relevantes nestas doses baixas, garantem os médicos. Os chamados fármacos de fundo, para retardar a evolução da doença e recuperar, no todo ou em parte, a funcionalidade das articulações.
- Fisioterapia
Trata-se de uma ginástica especial prescrita por um especialista, que tem como objetivo prolongar o bom funcionamento da articulação afetada e, assim, prevenir alguns dos possíveis efeitos deformantes, em especial o bloqueio e rigidez articular e a atrofia muscular secundária. A fisioterapia pode ainda aliviar os sintomas, aplicando contrastes de calor e frio na zona.
A hidroterapia (massagem com gelo) e a estimulação nervosa transcutânea também os aliviam. Paralelamente, é recomendável fazer também algumas mudanças no estilo de vida:
- Exercício moderado, ajustado a cada caso, que ajuda a manter as articulações saudáveis, a aliviar a rigidez, a reduzir a dor e a melhorar tanto a força óssea como a muscular.
- Descansar convenientemente é tão importante como o exercício. Dormir oito horas por dia e, se possível, fazer uma sesta, ajuda a uma recuperação mais rápida e pode prevenir o agravamento da doença.
- Evitar posturas e/ ou movimentos que exerçam tensão adicional sobre as articulações afetadas.
- Reduzir o stresse, já que piora os sintomas. Muitos terapeutas recomendam também a prática regular de ioga ou tai chi.
- Uma alimentação rica em vitaminas e minerais (especialmente antioxidantes como a vitamina E) que se encontram em abundância nas frutas e nas verduras. Os alimentos mais recomendados são a levedura de cerveja, gérmen de trigo, alho, sementes de girassol e as nozes. Também é recomendável ingerir ácidos gordos ricos em ómega-3 provenientes de peixes como o salmão, a cavala ou o arenque.
A cirurgia como recurso
As duas intervenções médicas mais comuns no tratamento genérico desta doença geralmente são:
- Injeções de líquido sintético
Têm características mecânicas semelhantes ao líquido sinovial na articulação artrítica que o organismo sintetiza. O nosso corpo produz naturalmente este lubrificante, mas as pessoas que padecem desta doença não o produzem nas quantidades suficientes, como constataram e comprovaram os investigadores ao longo das últimas décadas.
Por outro lado, "com a progressão da doença, a membrana que reveste os topos ósseos na articulação/cartilagem fica fina e irregular e, desta forma, esta substância viscosa melhora o deslizar das duas superfícies da articulação", explica Augusto Faustino. Assim, estas injeções de líquido sintético articular podem adiar, temporariamente, a necessidade de uma intervenção cirúrgica bem como melhorar a sua qualidade de vida.
- Cirurgia para reconstruir a articulação ou cirurgia de substituição
Também conhecida por artroplastia, a primeira pode ser usada em alternativa à segunda, que implica mudar a articulação completa. De acordo com o reumatologista, é levada a cabo "quando os medicamentos não conseguiram evitar a evolução destrutiva da articulação e face a uma articulação totalmente deformada e irreversivelmente destruída nenhuma das intervenções médicas produzem uma melhoria na qualidade de vida".
Uma app a descarregar
RheumaBuddy, apresentada publicamente a 14 de outubro de 2017, no XX Fórum de Apoio ao Doente Reumático, promovido pela Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas (LPCDR), é uma app gratuita para pessoas com artrite reumatoide. "Trata-se de uma ferramenta de capacitação que pretende aumentar a quantidade de dias melhores das pessoas com estas inflamações das articulações", informou, na altura, o organismo em comunicado.
"Basta que o utilizador registe diariamente o seu humor, os níveis de dor, de fadiga e de rigidez matinal, as horas de sono e de exercício, entre muitas outras coisas, permitindo criar um histórico pessoal de modo a perceber, de uma forma imediata, o que está a fazer de bem e menos bem e, assim, controlar melhor o dia a dia com a sua doença. Permite também comunicar com outros doentes e aprender com as suas experiências", assegura ainda a LPCDR.
Texto: Fernanda Soares e Luis Batista Gonçalves (edição digital) com revisão científica de Augusto Faustino (ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia)
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