Vários são os estudos que demonstraram um risco acrescido de doença cardiovascular nas mulheres submetidas à remoção dos ovários e que o risco é maior para as que têm idades inferiores aos 45 anos, sobretudo se não forem submetidas a tratamento hormonal.
Pelo contrário, nas mulheres com mais de 65 anos esse risco parece não ser significativo. Considerando que a doença cardiovascular é uma causa de morte mais importante que o cancro do ovário, a decisão de remover os ovários quando se realiza uma histerectomia em mulheres que não estejam na menopausa deve ser individualizada.
A histerectomia designa a intervenção cirúrgica em que se remove o útero. Quando se remove todo o útero designa-se como total, no caso de ser retirado apenas uma porção do útero (a localizada no interior do abdómen) designa-se como subtotal (fig 1.). Esta intervenção pode ser acompanhada pela remoção das trompas (salpingectomia), dos ovários (ooforectomia) ou ambos (anexectomia bilateral).
Os ovários são glândulas localizadas em ambos os lados do útero que libertam os óvulos e produzem hormonas femininas. A sua remoção, quando se realiza uma histerectomia por doenças benignas como os miomas uterinos, é uma prática relativamente comum em Portugal sobretudo em mulheres com idades próximas da menopausa. Realiza-se com o objectivo principal de reduzir o risco de cancro do ovário (redução de 12% em mulheres com ≥40 anos) mas também procurando evitar a realização de novas intervenções por problemas ováricos.
A principal causa de histerectomia em mulheres mais jovens, que ainda não se encontram na menopausa, são os miomas uterinos (tumor benigno do músculo uterino sendo que um número significativo destas mulheres são também submetidas a anexectomia bilateral. Os miomas afetam cerca de 2 milhões de mulheres em Portugal e quando sintomáticos podem causar sintomas de compressão dos órgãos vizinhos, diminuir a fertilidade, dor e hemorragias uterinas com impacto negativo na qualidade de vida da mulher.
Tradicionalmente o tratamento cirúrgico, nomeadamente a histerectomia, tem sido considerado o tratamento mais eficaz e definitivo mas, por se tratar de um tratamento cirúrgico, está também associado a mais riscos, a um período de recuperação mais longo e a custos mais elevados.
Os tratamentos médicos habitualmente usados para controlar os sintomas incluem as pilulas contraceptivas (com estrogénios e progestativos), os dispositivos médicos com hormonas (levonorgestrel) que se colocam no interior do útero para reduzir a quantidade do fluxo menstrual e os medicamentos que impedem os ovários de funcionar simulando uma menopausa artificial, conhecidos como análogos GnrH.
Recentemente um novo tipo de tratamento hormonal, os modeladores selectivos dos receptores de progesterona, dos quais o mais usado e mais recente é o acetato de ulipristal, mostrou ser muito eficaz no controle dos sintomas provocados pelos miomas, sendo capaz de diminuir e mesmo parar as hemorragias na maioria das mulheres e, também, de reduzir o tamanho dos miomas.
Este tratamento é muito útil para preparar as mulheres que têm que ser operadas tratando a anemia e diminuindo o tamanho dos miomas, ao facilitar e melhorar os resultados da intervenção cirúrgica e pode mesmo, em casos seleccionados, evitar a intervenção cirúrgica. Nestes casos, tem um impacto positivo na saúde destas mulheres ao diminuir os riscos cirúrgicos, mas também ao reduzir o risco de doença cardiovascular naquelas que, antes dos 55 anos, ao serem submetidas a histerectomia poderiam também remover os ovários.
Por Margarida Martinho, Médica Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Responsável da Unidade de Endoscopia do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Centro Hospitalar de São João no Porto, Presidente da Secção Portuguesa de Endoscopia Ginecológica da Sociedade Portuguesa de Ginecologia
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