O que são miomas uterinos e porque surgem?
Os leiomiomas uterinos (também chamados miomas e fibromiomas) são um tumor benigno que resulta de um crescimento e proliferação localizada das células musculares lisas do musculo uterino, o miométrio, rodeadas por uma pseudocápsula de fibras musculares normais comprimidas.
Na sua origem estão envolvidos fatores genéticos, hormonais e de crescimento. Estudos mostram que em cerca de 40% dos miomas apresentam anomalias nos cromossomas das suas células (translocações, deleções e trissomias) e sugerem que cada mioma surge de uma única célula de músculo liso. Também foi demostrado que as hormonas femininas como os estrogénios e a progesterona assim como outras substâncias produzidas pelas células musculares lisas e outras células do miométrio e designadas como fatores de crescimento promovem o crescimento dos miomas
Quais são os sinais e sintomas mais comuns dos miomas uterinos que as mulheres devem estar atentas?
Os miomas uterinos habitualmente não se associam a sintomas, mas em 30-40% dos casos podem manifestar-se por sintomatologia dependente da localização e dimensões dos nódulos. Os sintomas mais graves são as hemorragias uterinas anormais que mais frequentemente se traduz por uma menstruação mais intensa em quantidade e duração, a dor pélvica que pode ser intensa, um aumento do volume abdominal e sintomas de compressão dos outros órgãos vizinhos do útero como a bexiga, sendo que as mulheres referem que têm de ir frequentemente urinar e sentem um peso pélvico incomodativo.
Existem sintomas que são frequentemente ignorados ou subestimados pelas mulheres?
As mulheres com frequência não valorizam o aumento das suas perdas menstruais assim como os sintomas que se podem associar, como as dores menstruais e o cansaço progressivo, e também demoram a valorizar um aumento progressivo do volume abdominal.
É frequente termos mulheres que desconhecem o seu diagnóstico mesmo tendo sintomas?
É frequente as mulheres demorarem a relacionar alguns sintomas, como o cansaço fácil devido á anemia atribuível ás perdas menstruais, assim como o aumento de volume abdominal, com uma patologia ginecológica nomeadamente com miomas.
Qual é a prevalência dos miomas uterinos em Portugal? Há grupos etários mais propensos a desenvolver esta condição?
Estima-se que os miomas possam afetar cerca de 80 000 mulheres em Portugal. A maior prevalência ocorre durante a quinta década de vida de uma mulher (pode chegar a 80%), quando podem estar presentes em uma em cada quatro mulheres brancas e uma em cada duas mulheres afro-americanas. Apesar de menos frequentes nas mulheres em idade reprodutiva, podem mesmo assim ter prevalência clinicamente significativa em 20% a 40% em mulheres entre 35 e 55 anos.
Existem fatores de risco associados ao desenvolvimento de miomas uterinos?
Os fatores de risco mais associados ao desenvolvimento de miomas uterinos são a idade, a menarca precoce, a menopausa tardia, história de miomas em familiares de 1º grau, etnia afro-americana, obesidade, hipertensão arterial, dieta (carnes vermelhas, álcool, cafeína) e a nuliparidade.
Os miomas uterinos podem afetar a vida sexual das mulheres e a sua fertilidade? Se sim, de que forma?
Os miomas sintomáticos podem interferir de forma significativa na forma como a mulher vive a sua sexualidade.
A sua vida sexual passa a ser frequentemente desconfortável, dolorosa e limitada pelo número de dias em que a hemorragia vaginal é intensa. Esta situação pode levar muitas mulheres a evitar ter relações sexuais, com o consequente impacto negativo na sua autoestima, líbido e satisfação sexual e eventualmente nos seus relacionamentos.
Além dos efeitos diretos na sexualidade feminina e na vida sexual, os miomas uterinos podem também perturbar o ciclo reprodutivo e ter implicações na fertilidade, podendo associar-se a dificuldades em conseguir uma gravidez e aumentando o risco de aborto espontâneo e de parto prematuro.
Como é feito o diagnóstico e quais são as principais opções de tratamento disponíveis?
O diagnóstico do mioma assenta inicialmente na valorização dos sintomas apresentados e pode suspeitar-se logo no exame ginecológico ao detetar-se um útero volumoso e nodular, mas é pela ecografia ginecológica que a maioria dos miomas são diagnosticados. Muito mais raramente e nas situações de dúvida pode ser necessário recorrer a uma ressonância magnética pélvica.
O tratamento deve ser definido em função da situação clínica da paciente e considerando a sua idade, mas sobretudo o seu desejo reprodutivo e em manter o seu útero. Recentemente, os tratamentos médicos como os estroprogestativos ou progestativos isolados, mas sobretudo os Análogos da GnRH, os Moduladores Seletivos dos Recetores da Progesterona (Selective Progesterone Receptors Modulators ou SPERMs) e, ainda mais recentemente, os antagonistas da GnRH, pela eficácia no controle das hemorragias uterinas, mas também pelo potencial efeito na diminuição dos miomas têm assumido um papel importante, podendo mesmo evitar o recurso á cirurgia ou melhorando as condições pré-operatórias da paciente. Os antagonistas da GnRH apresentam a vantagem de serem administrados por via oral, em tratamentos prolongados e por obviar a alguns dos efeitos secundários associados a outros similares como os análogos GnRH. O recurso ao tratamento cirúrgico é, ainda assim, uma opção nas situações em que o tratamento médico não resulta ou a situação clínica o indica numa decisão que deve ser sempre individualizada e partilhada com a mulher após um aconselhamento adequado. Os tratamentos cirúrgicos podem ser preservadores da fertilidade, como a miomectomia, ou mais radicais quando se opta pela histerectomia total. Seja qual for a opção cirúrgica, devem ser privilegiadas as técnicas minimamente invasivas como a abordagem laparoscópica ou histeroscópica.
Margarida Martinho, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, é ainda assistente convidada da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, assistente graduada em Ginecologia no Centro Hospitalar Universitário de São João e Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
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