Para uma parte cada vez maior dos portugueses, os dias bonitos de primavera trazem associados muitos espirros, olhos a lacrimejar e congestão nasal, sintomas das tão incómodas alergias respiratórias. Os culpados são os pólenes, que, como explica Mariana Couto, imunoalergologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, são "os alergénios mais importantes do ambiente exterior que induzem sintomas de doença alérgica e existem sobretudo nos meses de primavera".

Daí a maior prevalência nesta altura do ano. Em Portugal, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, um terço da população sofre destas alergias primaveris, como também lhes chamam, sendo que "a maioria sofre de rinite e/ou conjuntivite". No entanto, segundo a imunoalergologista, "cerca de 40% dos afetados também tem asma", alerta imunoalergologista.

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Os sintomas da alergia aos pólenes podem manifestar-se em qualquer idade, podendo surgir pela primeira vez em pessoas adultas. "Uma vez que se começam a manifestar, tendem a persistir cronicamente ou mesmo a agravar-se com a passagem do tempo. Entre 30% a 60% dos doentes com rinite alérgica a pólenes pode acabar por desenvolver asma", sublinha Mariana Couto. Na verdade, como explica a professora de Faculdade de Medicina do Porto, "os pólenes, em Portugal, existem todo o ano, mas são mais frequentes nos meses de fevereiro a outubro, sendo os picos mais elevados nos meses de maio a julho", informa a especialista.

No nosso país, os pólenes que causam sintomas de alergia têm, sobretudo, origem em árvores como a oliveira, o plátano e a bétula, ervas como a parietária, a artemísia e o plantago e arbustos. "O pólen das gramíneas, também conhecidas como fenos, é de longe o principal responsável por alergias respiratórias de primavera", afirma, contudo, a imunoalergologista. No outono e no inverno, observam-se contagens mais modestas e de algumas espécies específicas, como é o caso do cipreste.

Os sintomas das reações alérgicas que (se) confundem

Contrariamente ao que se pensa, "o pólen de plantas com flores muito coloridas ou de dimensões grandes, como é o caso do pinheiro, raramente estão implicados, já que o seu tamanho dificulta a dispersão aérea e o atingimento das vias aéreas", esclarece a especialista. "O pólen que provoca alergia é de tamanho microscópico e, por isso, invisível ao olho humano", refere ainda Mariana Couto. Os sintomas das reações alérgicas são muito semelhantes aos de uma constipação.

As manifestações mais comuns "consistem em espirros múltiplos, pingo no nariz e congestão nasal, comichão no nariz e no olhos e, por vezes, tosse ou outros sintomas brônquicos", realça a especialista. A principal diferença é que nos casos de alergia, há também "sintomas oculares [como ficar com olhos vermelhos e/ou com os olhos a lacrimejar, por exemplo] e a tosse normalmente é seca, sem expetoração", acrescenta ainda a imunoalergologista Mariana Couto.

"Além disso, se os sintomas se repetem frequentemente no tempo ou com duração de muitos dias, é mais provável que se trate de alergia", afirmou ainda em declarações à Saber Viver. Algumas pessoas apresentam também alergia na pele. "A combinação de sintomas pode ser diferente de pessoa para pessoa. Algumas têm apenas só mesmo um sintoma, outras têm vários associados", refere. Para obter um diagnóstico correto e fiável, é preciso recorrer a um médico alergologista.

"É importante saber quais os pólenes envolvidos e realizar testes cutâneos e/ou análises de sangue. Poderá também ser necessário fazer exames respiratórios se houver sintomas sugestivos de asma", adverte. "As alergias respiratórias não se manifestam sempre na mesma intensidade, depende da quantidade de pólen libertado e da exposição do indivíduo durante a estação do ano específica", diz. Curiosamente, as pessoas com este tipo de alergias sentem-se pior na cidade do que no campo.

Mariana Couto explica-nos a razão. "Apesar de no campo existir mais vegetação e mais espécies de pólenes, a poluição nas cidades retém os grãos de pólen na atmosfera e impede a sua dispersão. Por outro lado, ao interagir com a poluição automóvel, os pólenes tornam-se mais agressivos", sublinha. Os pólenes não são iguais em todo o mundo. "Dependem das plantas que existem em cada região", informa professora universitária e imunoalergologista.

"Por exemplo, no norte e no centro da Europa, é muito frequente a alergia à árvore vidoeiro [bétula] e, em algumas pessoas, com uma gravidade importante que provoca alergia a certos frutos frescos e secos", realça ainda a especialista. Quem sofre de alergias respiratórias tem tendência a automedicar-se, um erro, pelo que a imonulaergolista deixa um aviso. "A automedicação é um grave problema de saúde pública em Portugal em todas as áreas da medicina", lamenta.

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"No caso específico das alergias, assistimos à progressão da rinite para sinusite e mesmo asma quando a doença não é devidamente tratada e, muitas vezes, também são escolhidos medicamentos de venda livre nas farmácias que não são os mais adequados e/ou que induzem efeitos laterais, sonolência no caso dos anti-histamínicos e habituação com vasoconstritores nasais", condena Mariana Couto. Quanto à prevenção, já que não é possível uma completa evicção dos pólenes nas épocas em que estão dispersos no exterior, "existe tratamento para impedir o aparecimento dos sintomas ou tratamento para aliviá-los", indica a imunoalergologista.

A terapia medicamentosa preventiva requer que se conheça a época de polinização dos pólenes a que o doente é alérgico e consiste em tomar fármacos antialérgicos, como os anti-histamínicos e os sprays nasais, durante essa fase para impedir o aparecimento dos sintomas. "Se a doença for mais grave ou mesmo para eliminar a necessidade constante de medicamentos, pode decidir-se por fazer vacinas (imunoterapia específica) que têm um efeito benéfico duradouro por vários anos", explica.

Número de casos tem vindo a aumentar

No último século, o número de alérgicos subiu. "Assistimos a um progressivo aumento da prevalência da rinite alérgica a pólenes, tendo passado de uma doença rara para se tornar a condição imunológica mais frequente no ser humano hoje em dia", lamenta. A isto não são indiferentes as condições atmosféricas e a poluição. "A temperatura e humidade mais propícias à polinização ocorrem durante os meses de primavera e início de verão para a maioria das plantas", refere.

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"O vento, a temperatura elevada e o tempo seco favorecem a maior gravidade de sintomas. Por outro lado, os períodos de chuva reduzem drasticamente os níveis de pólen", sublinha a imunoalergologista. No caso da poluição atmosférica, "Aumenta a reação aos alergénios nas vias respiratórias, piora a inflamação, potencia o stresse oxidativo e altera a resposta imunitária. Além disso, os gases com efeito de estufa provocaram o aumento da temperatura do planeta, conduzindo a um maior crescimento de plantas alergénicas e maior produção de pólen e períodos de polinização mais longa, que estão a piorar as condições para as alergias e asma", condena ainda a professora universitária.

Por que é que só algumas pessoas são afetadas pelas alergias? "A causa é multifatorial. Para além da genética que é muito importante, muitos fatores de risco relacionados com o estilo de vida das sociedades ocidentais, sedentarismo, alteração da dieta, obesidade, poluição dentro e fora dos edifícios, exposição a alergénios, consumo excessivo de medicamentos, nomeadamente de antibióticos, contribuem para a expressão das doenças alérgicas", afirma ainda Mariana Couto.

O que pode fazer para minimizar os sintomas de alergias

Estas são algumas das principais recomendações dos imunoalergologistas a adotar no quotidiano:

- Reduza a atividade no exterior, sobretudo em áreas de elevada polinização.

- Mantenha as janelas fechadas quando as contagens de pólenes forem elevadas, particularmente em dias de vento forte e em períodos quentes e secos.

- Viaje de carro com as janelas fechadas e, no caso de se deslocar de mota, deverá usar um capacete integral.

- Use óculos escuros fora de casa.

- Mantenha a sua casa limpa e não descure os vidros das janelas, assim como as varandas. Ao limpar o exterior, evita a passagem de pólenes e pós para o interior da casa.

Texto: Rita Caetano

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