No seu primeiro livro que dedica à alimentação low carb, Alessandra Losacco traz conhecimento sobre uma dieta, e também estilo de vida, que diminui a ingestão de alimentos ricos em carboidratos e aumenta o consumo de proteínas. À mesa, vamos encontrar carnes, peixes, ovos, mariscos, frutas com poucos açúcares e vegetais, em detrimento de refinados, açúcares, óleos vegetais, alimentos industriais, e processados.

Em A Cozinha Low Carb da Alê (edição Marcador), a coach em alimentação e criadora de conteúdos digitais, leva o leitor a uma história de vida e superação, a da própria Alessandra. Um caminho que implicou a mudança de país e continente, a luta contra o cancro e a adoção de um novo estilo de vida.

À conversa com Alessandra, trazemos para a ribalta temas como a obesidade e alternativas a uma mesa mais convencional, para descobrirmos que não basta apenas seguir uma dieta, há que a complementar com exercício físico e uma atitude positiva.

Alessandra Losacco gere a página do Instagram AleFitMom1, onde partilha regularmente receitas low carb/cetogénicas.

A Alessandra tem uma história de vida dividida entre dois continentes. Quer, brevemente, partilhá-la com os leitores?

Sou brasileira de sangue e portuguesa de coração. Vim para Portugal com os meus pais quando tinha 22 anos, eles decidiram deixar o país por razoes de segurança. No começo sofri muito com a adaptação, mas hoje em dia já não me vejo a viver no Brasil.

“Gostaria que as pessoas deixassem de ver a alimentação low carb como um 'bicho de sete cabeças'” - Alessandra Losacco
“Gostaria que as pessoas deixassem de ver a alimentação low carb como um 'bicho de sete cabeças'” - Alessandra Losacco créditos: Teresa Aires/Marcador

Um dos episódios que traz para o seu livro é o da luta do seu pai com o excesso de peso. É nesse contexto que nasce a preocupação da Alessandra com a alimentação equilibrada?

Sim. Cresci vendo a luta do meu pai contra o excesso de peso, cresci vendo as crises de compulsão que ele tinha e que, na altura, as pessoas chamavam de “gula”, inconscientemente isso foi ficando na minha cabeça. Cresci preocupada com o que comia, mas sem saber exatamente o que estava certo e o que estava errado.

Cresci preocupada com o que comia, mas sem saber exatamente o que estava certo e o que estava errado.

Ainda sobre a obesidade e excesso de peso, a Alessandra está a terminar uma formação em “Obesidade: risco e remissão”. Esta formação trouxe-lhe um novo olhar sobre as questões que aborda?

Entre todas as formações que já fiz, a que refere talvez seja a de maior importância para o tema da obesidade, pois nos faz entender perfeitamente o processo pelo qual as pessoas se tornam obesas e qual a melhor maneira de reverter essa doença.

Na verdade, não são novos olhares sobre o tema, mas sim olhares antigos ocultados por aquilo que estudos observacionais quiseram erradamente tentar provar.

A cozinha low carb de Alessandra Losacco é simples e para todos os dias
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No caso da Alessandra, como refere no livro, a mudança na alimentação, para uma dieta saudável, trouxe-lhe num primeiro momento problemas de saúde. Porquê?

Antes de mudar para o estilo de vida que sigo hoje em dia, passei por várias estratégias nutricionais, incluindo o vegetarianismo. Após um longo período sem a ingestão de proteína anima, descobri uma anemia profunda.

Na época a Alessandra enfrenta um problema duro, a luta contra o cancro da mama, que vence. Diz-nos que a partir daí olhou para a alimentação como algo “sagrado”. Como define e pratica esse ato “sagrado”?

Passei a entender que saúde é algo inegociável, que podemos ter tudo nesta vida, mas se a saúde não estiver boa, de nada adianta. Sagrado para mim é cuidar-me, respeitar o meu corpo, a minha fome, a minha saciedade.

“Há alimentos que enchem os nossos supermercados que são verdadeiras balas para as bactérias que nos curam” - Alexandra Vasconcelos
“Há alimentos que enchem os nossos supermercados que são verdadeiras balas para as bactérias que nos curam” - Alexandra Vasconcelos
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O que é a alimentação low carb? Quais os alimentos permitidos e proibidos?

É um estilo de vida, na verdade. É priorizar comida de verdade como carnes de qualquer espécie, peixes, ovos, mariscos, frutas com poucos açucares, legumes de baixo amido, saladas. É deixar de consumir o que faz mal como os refinados, açúcares, óleos vegetais, alimentos industriais, processados, enfim, tudo aquilo que não fazia parte da alimentação do ser humano antes da industrialização.

Uma vez que uma alimentação low carb serve, não só, para o emagrecimento, mas também para a remissão de doenças metabólicas, causadas pela má alimentação, devemos evitar o consumo de grãos e cereais, industrializados, refinados. Como referi, frutas muito doces devem ser restringidas em certos casos.

“Gostaria que as pessoas deixassem de ver a alimentação low carb como um 'bicho de sete cabeças'” - Alessandra Losacco
“Gostaria que as pessoas deixassem de ver a alimentação low carb como um 'bicho de sete cabeças'” - Alessandra Losacco créditos: Teresa Aires/Marcador

Após ter abraçado a alimentação low carb o que mudou na Alessandra e no seu dia a dia?

Muita coisa mudou no que toca à energia, principalmente. Quando comecei com este estilo de vida, logo de início já notava uma grande diferença na energia matinal e no meu desempenho nos treinos, atividades do dia a dia. Isto, para não falar na desinflamação do corpo que desapareceu, dores de cabeça, sensação de enfartamento, liberdade para ouvir o corpo e comer apenas quando tenho fome. Daí, surge o jejum intermitente como estratégia de renovação celular entre outros benefícios.

Quando comecei com este estilo de vida, logo de início já notava uma grande diferença na energia matinal e no meu desempenho nos treinos.

Começou, também, a criar receitas. É fácil adaptar as receitas tradicionais a versões low carb? Quer dar-nos alguns exemplos, eventualmente do seu livro?

Foram tentativas de acerto e erro. No início, não foi fácil, pois, no caso dos bolos, para dar um exemplo, a consistência daqueles feitos com farinha de trigo nada tem a ver com a dos bolos confecionados com uma farinha de oleaginosa. O glúten, presente no trigo, deixa qualquer receita mais macia.

Por isso no início não foi fácil, mas ao longo do tempo e das imensas receitas que não deram certo, outras foram surgindo e confesso que estão cada vez melhores (ver caixa).

Há dois anos a Alessandra enveredou num novo projeto, o A Alê Está na Minha Cozinha. Quer falar-nos desta iniciativa?

Como já fazia workshops em locais públicos resolvi criar esse projeto mais intimista, onde pudesse ir à casa das pessoas e onde elas pudessem, não só aprender, mas também cozinhar comigo. Com este projeto só preciso de uma cozinha e de um grupo de amigas dispostas a aprender coisas novas.

Acompanha mulheres e homens através de mentorias. Quais são os principais objetivos que estas pessoas trazem e que problemas enfrentam?

A maior parte das pessoas que me procura visa o emagrecimento, mas surgem muitas mulheres aparentemente magras, porém inflamadas por conta da má alimentação.

Muitos, para além da obesidade sofrem de diabetes, pré-diabetes, síndrome metabólica, doenças autoimunes, inflamação cronica do corpo.

O que gostaria a Alessandra de mudar na vida de quem lê o seu livro?

O meu sonho é que as pessoas olhem para a alimentação como um ato de amor próprio e autocuidado. Que as pessoas encarem este estilo de vida como algo sem prazo de validade. Que entendam que nada bate a comida verdadeira. Que entendam que um estilo de vida low carb nada tem a ver com restrição e acredito que irão entender isso depois de lerem o livro.

Também gostaria muito que as pessoas deixassem de ver a alimentação low carb como um “bicho de sete cabeças” pois, na verdade, apenas deixamos de consumir o que não nos acrescenta em nada. Mas, mais que tudo, gostaria que as pessoas conseguissem amar este estilo de vida assim como eu amo.