A gripe e a pneumonia, estão entre as 10 principais causas de morte das pessoas idosas. A grande maioria das mortes (70 a 85%), ocorre em pessoas com 65 ou mais anos. Outras complicações da gripe, menos conhecidas, mas não menos importantes, são o enfarte agudo do miocárdio e os acidentes vasculares cerebrais. Hoje sabe-se que nas pessoas idosas a gripe aumenta o risco de ataque cardíaco três a cinco vezes e de acidente vascular cerebral duas a três vezes, nas primeiras duas semanas após a infeção.  Este risco mantém-se elevado durante vários meses.

Nos últimos dois anos tivemos um nível de atividade da gripe bastante baixo devido às restrições e a outras medidas de proteção contra a Covid -19, do que resultaram padrões de imunidade mais baixos na comunidade. Com o fim das restrições e das medidas atrás referidas, irá ocorrer uma maior disseminação da gripe, pelo que se prevê que este ano o número de casos de gripe possa vir a aumentar, assim como a gravidade da doença. Neste sentido, é primordial adotar medidas que protejam o mais possível os doentes.

Sabe-se hoje, que ser vacinado contra a gripe é uma das melhores formas de reduzir o risco de se vir a sofrer de um ataque cardíaco ou de um acidente vascular cerebral, bem como de outras complicações. A gripe pode também desencadear ou agravar uma insuficiência cardíaca já existente, pelo que não só estes doentes, como todas as pessoas com patologia cardiovascular, devem obrigatoriamente ser vacinados.

No seu conjunto, os resultados protetores da vacina da gripe são comparáveis aos obtidos com outras intervenções com resultados preventivos bem demonstrados, como o tratamento da hipertensão, do colesterol elevado ou deixar de fumar, pelo que a vacinação da gripe é fortemente recomendada por todas as Sociedades e Fundações de Cardiologia.

Devo chamar a atenção que nas pessoas idosas, os resultados preventivos da vacinação têm sido menores que nas pessoas mais jovens, devido ao facto do seu sistema imunitário responder menos vigorosamente às vacinas. Na verdade, o sistema imunitário enfraquece com o avançar da idade, deixando as pessoas idosas mais vulneráveis às infeções, o que leva a uma evolução mais grave da doença que pode terminar na morte prematura.

Para resolver este problema e melhorar as defesas do organismo, os laboratórios produtores de vacinas têm vindo a desenvolver vacinas, mais potentes, destinadas especificamente a ser utilizadas nas pessoas idosas. Hoje já dispomos de uma vacina inativada, contendo duas estirpes do vírus da gripe tipo A e duas estirpes de tipo B, distinguindo-se das vacinas anteriores por ter uma dose 4 vezes superior de antigénio, o que a torna mais eficaz, mas continuando a ser bem tolerada. Esta vacina de dose elevada demonstrou em vários estudos, nomeadamente num estudo em lares de idosos, (o local onde se encontram as pessoas mais frágeis da comunidade), maior eficácia que as vacinas atualmente administradas. Por esse motivo, começou recentemente a ser utilizada nas pessoas idosas internadas em Lares, por decisão da Direção Geral da Saúde.

De acordo com as recomendações da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia espera-se que, no próximo ano, esta vacina possa ser disponibilizada para as restantes pessoas idosas. Para terminar, devemos ter bem presente que a vacina da gripe pode salvar muitas vidas, nomeadamente ao proteger o coração de ataques cardíacos e outras complicações cardiovasculares.

Um artigo do Professor Doutor Manuel Oliveira Carrageta, especialista em Cardiologia.