"Estima-se que as dores nas costas afetem 7 milhões de portugueses em algum momento da sua vida e isto é preocupante. As doenças da coluna vertebral são já a principal causa de anos vividos com incapacidade em todo o mundo. Se uma dor que é persistente e incapacitante for ignorada, pode resultar num problema potencialmente mais grave, ou até limitar o acesso a opções de tratamento mais simples", começa por alertar Bruno Santiago, neurocirurgião e coordenador da Campanha Olhe pelas suas costas.

"Saber interpretar o tipo de dor nas costas é fundamental e sempre que esta se acompanha de dor ou falta de força num dos membros, se agrava durante a noite, se acompanha de febre ou perda de peso devemos procurar ajuda médica", refere o especialista.

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Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, as dores nas costas são responsáveis por 50% dos casos de incapacidade física na população adulta, levando 400 mil portugueses a faltarem ao trabalho por ano, a uma média superior a 33 mil por mês. Esta tendência crescente, que é já a segunda causa de ida ao médico, tem ainda um saldo pesado nas contas públicas.

Em Portugal, só a taxa de absentismo e as reformas antecipadas provocadas pela dor crónica nas costas e articulações representa um despesa indireta de quase 740 milhões de euros anuais, de acordo com uma investigação desenvolvida, em 2012, pela Universidade Católica.

Causas múltiplas

A maioria (85%) das dores nas costas são provocadas por lesão do músculo, tendões ou ligamentos em torno da coluna e que podem aparecer de forma súbita por um esforço ou de forma lenta e progressiva por movimentos repetitivos. Outras causas de dor são a hérnia discal, doença degenerativa do disco intervertebral, disfunção das articulações da coluna, disfunção sacroilíaca, estenose do canal vertebral/osteoartrose, espondilolistese, espondilite anquilosante, infeções, tumores, fraturas, entre outras.

"Aos sinais que devemos estar atentos e que requerem avaliação por médico especializado chamamos de bandeiras vermelhas. São febre, perda de peso inexplicável, dor de agravamento noturno, dor que agrava ao longo de quatro semanas, alterações de sensibilidade (como dormência e formigueiro), diminuição de força muscular nos membros e alterações urinárias (retenção ou incontinência)", indica o também neurocirurgião Lino Fonseca.

Em caso de dores de costas esporádicas, deve realizar-se exercício tolerado, alongamentos, perda de peso e evitar a sobrecarga sobre a coluna (nomeadamente mochilas ou levantamento de peso). "Deve fazer-se ainda uma correção da postura, a cessação tabágica (uma vez que os fumadores apresentam menor fluxo sanguíneo à coluna com aumento de probabilidade de lesão) e um anti-inflamatório não esteroide de forma episódica", acrescenta este médico.

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Profissões de risco

As profissões que implicam mais de quatro horas consecutivas na posição sentada a trabalhar com um ecrã digital, como por exemplo o computador, apresentam maior risco de dor nas costas. Mas não são as únicas.

"Esta situação está relacionada com a má postura, o desalinhamento da coluna, e a tendência para olhar para baixo (uma vez que a maioria dos ecrãs se encontram numa posição inferior aos olhos). A dependência da sociedade atual de smartphones agrava o problema na coluna cervical, uma vez que a má postura realizada para ler em ecrãs pequenos aumentam a pressão e força exercida na coluna cervical em seis vezes o habitual", frisa Lino Fonseca.

"O excesso de peso e o sedentarismo, nomeadamente na maioria da população pediátrica, vão acarretar graves problemas de dores nas costas nas gerações futuras", adverte.

Existe alguma relação entre as dores de costas e os dias frios?

A maioria das dores nas costas não têm origem na coluna vertebral, mas sim em estruturas envolventes e de suporte: músculos, tendões e ligamentos. Com o tempo frio, ocorre um processo natural de vasoconstrição, que é a contração dos vasos das extremidades para desviar o fluxo de sangue para os órgãos centrais, (coração, pulmões e cérebro) para manter o corpo quente. "Isto faz com que exista uma diminuição de fluxo sanguíneo para os músculos, tendões e ligamentos em torno da coluna, que se tornam mais rijos, diminuindo a sua flexibilidade e provocando as dores nas costas", resume Lino Fonsesa.

As articulações da coluna que se encontram inflamadas, como por exemplo numa doença inflamatória autoimune, com o tempo frio e a diminuição da pressão barométrica normais do inverno, têm um aumento do líquido inflamatório, o que também provoca dor, esclarece este médico. No inverno também existe diminuição da prática de exercício físico que é desencorajada pela diminuição da luz solar e tempo frio e chuvoso. Sabe-se que o exercício físico de baixo impacto, como por exemplo a caminhada, fortalece os músculos em torno da coluna, prevenindo lesões.

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Mas o que a ciência nos diz em termos de factos? Existe uma correlação direta entre o tempo frio e as dores nas costa demonstrada em vários estudos.

Por exemplo, um estudo realizado na Suécia em 2012 que comparou uma população de cerca de 135.000 pessoas que exerciam a sua atividade profissional em ambiente exterior vs ambiente interior, concluiu que os primeiros apresentavam mais dores nas costas e agravamento no inverno.

Dores de costas e depressão

A diminuição à exposição solar durante o inverno também aumenta a probabilidade de depressão, "uma vez que existe uma relação direta entre a produção de serotonina (hormona do bem-estar) e a luz solar. Existe maior probabilidade de pessoas com sintomas depressivos terem dores nas costas", frisa Lino Fonseca.

Existe, contudo, pequenas mudanças no estilo de vida que podem melhorar a qualidade de vida. "Os exercícios que contribuem para o fortalecimento dos músculos que dão suporte à coluna, feitos com regularidade, são a principal forma de mantermos uma coluna saudável, evitando dores, e melhorando muito a qualidade de vida. A natação, o pilates, as caminhadas ou exercícios específicos em ginásio são alguns exemplos", conclui o neurocirurgião Bruno Santiago.