
Um número considerável de indivíduos procura a consulta de um médico dentista somente quando tem dor de dentes ou problemas evidentes. Encontra explicações que justifiquem porque negligenciamos a tal ponto a saúde oral?
Na minha opinião, tal deve-se em primeiro lugar a razões de ordem histórica. A Medicina Dentária foi vista como uma área à parte do corpo, no fundo como se a saúde e a saúde oral fossem áreas distintas e tal contribuiu para o desconhecimento de como a saúde oral influência a nossa saúde geral. As razões económicas são também outro motivo que ajuda a explicar a atitude negligente em relação à saúde oral.
Faltará em Portugal, no que toca à população, uma abordagem preventiva no que toca às questões de saúde, no caso vertente a saúde oral?
Apesar de notar que existe um esforço maior, no que à prevenção diz respeito falta literacia em saúde que daria uma maior consciencialização da população. Creio que mais campanhas nas escolas, na televisão, em contexto pratico de ensinos básicos de escovagem e distribuição de produtos de higiene oral podem sempre ser implementados. Estabelecer também a correlação da saúde oral com outras questões de saúde nomeadamente a questão da prevenção de inflamação e infeções que pode afetar os tecidos cardíacos, provocar menor concentração nas tarefas e que aparentemente está relacionado com maior propensão a alterações cognitivas, entre outras. Prevenir é bem melhor do que tratar.
De que forma podemos promover uma melhor saúde oral e incentivar a visita regular ao dentista?
Consciencialização mais uma vez. O incentivo que tem vindo a ser feito é sobretudo através do cheque dentista que proporcionou à população, em determinadas faixas etárias, a possibilidade de rastreio e tratamento. No entanto, considero que seria importante que mais médicos dentistas e higienistas fossem integrados nos centros de saúde e hospitais.
A perda de dentes pode ter várias implicações como alterações na mastigação, perda de equilíbrio da musculatura mastigatória.
De acordo com o último Barómetro de Saúde Oral da OMD, apenas 34,3% da população portuguesa tem a dentição completa. Que impacto pode ter a perda de dentes na saúde em geral?
A perda de dentes pode ter várias implicações como alterações na mastigação, perda de equilíbrio da musculatura mastigatória com repercussões posturais, assimetrias, que podem levar a sintomas que muitas vezes não associamos à falta de dentes, como dores de cabeça, ou dores musculares em várias zonas do corpo desenvolvidas por mecanismos compensatórios da perda de dentes.
Que impacto tem a alimentação na saúde dos dentes e das gengivas? O mesmo é dizer, que alimentos impactam positiva e negativamente na saúde oral.
Todos os alimentos que contém açúcar têm um impacto negativo. Contrariamente, os alimentos que melhoram a nossa saúde oral são os alimentos duros, secos, fibrosos, que promovem a mastigação eficaz e a ação muscular, principalmente em idades de crescimento para promover o correto desenvolvimento da base óssea.
Quais são os erros mais comuns que as pessoas cometem na sua rotina de higiene oral?
Um dos erros mais comuns é passar a boca por água após a escovagem. Desta forma o fluor que a escovagem deixou atuar sobre os dentes é removido. Outro erro comum é a passagem do fio dentário depois da lavagem dos dentes, este passo deve ser feito antes da lavagem de forma que a pasta possa penetrar entre os dentes.
No presente, deparamo-nos com uma miríade de produtos de higiene oral. Que conselho daria para uma escolha racional e eficaz destes produtos?
O meu principal conselho é fazer a troca das escovas de três em três meses. Depois temos produtos adequados a cada caso: desde sensibilidade dentária, a pastas que diminuem o sangramento gengival, com mais propriedades anti-inflamatórias, entre outros. Os escovilhões por exemplo devem ter o tamanho adequado sob o risco de que se não o forem poder induzir maior retração da papila interdentária. Os jatos de água são uma excelente ajuda, mas devem ser ensinados como devem ser manuseados...
Os produtos devem ser escolhidos de acordo com a saúde oral de cada um. Mas o mais importante é uma escovagem eficaz com pasta.
Um dos erros mais comuns é passar a boca por água após a escovagem. Desta forma o fluor que a escovagem deixou atuar sobre os dentes é removido.
Atualmente, observa-se um aumento na procura por tratamentos ortodônticos. O que motiva esta procura? A preocupação é mais estética ou funcional?
Estes tratamentos são procurados por ambas as razões. A estética é sempre uma preocupação, quem é que não quer ter um sorriso amplo, bonito e branco? Mas a vertente funcional está efetivamente cada vez mais em voga, há cada vez mais pessoas conscientes, embora ainda não em número suficiente, do impacto que a boca tem na saúde e qualidade de vida. No meu caso, sou muitas vezes referenciada por fisioterapeutas, porque a correlação entre a postura, e dores em diversas partes do corpo e cabeça com a boca está estabelecida e a ortodontia pode ser parte da solução.
Ainda vigora a mentalidade de que a ortodontia se destina a crianças e a adolescentes. Concorda? Em que casos os adultos também podem beneficiar deste tipo de tratamento?
Acho que essa mentalidade já mudou. Os adultos sabem que os dentes alinhados permitem uma melhor higienização, logo menos bactérias, menos infeções, menor risco de inflamação de vasos sanguíneos, menor risco de patologia cardíaca, deficit cognitivo, entre outros. Obviamente, que um sorriso bonito e a autoestima andam de mãos dadas e por detrás de sorriso bonito deverá estar um sorriso saudável. Os adultos podem e devem também corrigir situações de más oclusões. Atualmente existem muitas soluções, inclusivamente o tratamento com alinhadores transparentes que permitem corrigir o problema, com a vantagem de serem aparelhos confortáveis e mais discretos.
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