O investigador Pedro Teixeira critica o programa “Peso Pesado”, por não falar sobre alimentação saudável e apresentar o exercício físico como algo doloroso e alerta: os concorrentes arriscam-se a recuperar o peso e os espectadores a aprender lições erradas.
“Do programa para a realidade vai um passo tão grande, que o que ali se passa terá pouca aplicação na vida da maior parte das pessoas”, disse à Lusa Pedro Teixeira, responsável pelo programa da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) para perceber quais os hábitos dos portugueses que conseguiram emagrecer e manter o peso. Até agora estão inscritos 230 portugueses no Registo Nacional de Controlo do Peso que perderam, em média, 18 quilos.
Os casos de sucesso investigados pela equipa da FMH revelam percursos que estão longe do que aparece na televisão. “Ninguém perdeu muitos quilos em pouco tempo, até porque, regra geral, perdas de peso agressivas não são mantidas”, alertou o especialista em nutrição.
Os concorrentes do “Peso Pesado” experimentam um contexto "irrealista", ao serem tratados como se fossem "atletas olímpicos de perda de peso". "Estão sob muita pressão e têm muito acompanhamento de pessoas diferentes”, resumiu o professor.
Pedro Teixeira teme que o fim do programa televisivo signifique para muitos dos concorrentes o regresso gradual ao peso antigo, já que deverão ser poucos os que vão conseguir manter aquele estilo de vida. "Pelo menos, foi o que aconteceu com os concorrentes do programa norte-americano", recordou, referindo-se ao modelo norte-americano “The Biggest Loser”, que acompanha vários obesos na senda de perder peso através de dieta e ginástica intensiva.
Além dos casos pessoais dos concorrentes, o especialista teme que os telespectadores tirem conclusões erradas. A excessiva importância do peso para a felicidade das pessoas é uma mensagem subliminar que deve ser corrigida: “é possível ser-se feliz e saudável, mesmo com um pouco de peso a mais”, defende o investigador.
Outras das críticas prende-se com a forma como o exercício físico é apresentada na televisão. “Há sofrimento, desconforto, gritos, com as pessoas sempre a suar muito”, lamenta Pedro Teixeira, explicando que esta visão está longe do recomendado pelos especialistas para perder peso.
No programa existe um militar que humilha e castiga os concorrentes que tentam superar as provas. No entanto, "quem faz exercício para o resto da vida faz algo que lhe dá prazer, que gosta e que tem significado. Não anda a sofrer constantemente”, diz. Quem sofre, desiste.
Finalmente, o especialista em nutrição lamenta que até agora o programa “desvalorize o papel da alimentação”: “não se fala nas refeições, porque é muito mais atraente do ponto de vista destes programas ver alguém a gritar e outros a suar do que ver alguém a cozinhar algo que demora 20 minutos a preparar”.
11 de maio de 2011
Fonte: Lusa/SAPO
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