Se o "Natal é quando um Homem quiser", é fácil concluirmos que o Homem tem querido pouco. Talvez se ajustássemos a expressão para "Natal é quando a entidade empregadora o permitir", ajudasse a perpetuar o espírito natalício durante o resto do ano, com outros tantos subsídios de Natal.

É fácil percebermos que a época natalícia é tradicionalmente solidária, pelo que há um apelo cada vez maior à ausência de tempo específico para esta acontecer. Coloca-se a questão do simbolismo religioso no Natal, que o impede de poder acontecer todos os dias, ao invés da solidariedade. Levar a expressão à letra, segundo os crentes, misturaria o sagrado com o profano e aqui é que a porca torce o rabo (ou como diria a PETA ou o PAN "aqui é que a couve parte o talo, ao ser retirada de uma plantação completamente biológica, sem qualquer dor ou massacre associados"). O Natal é uma festividade cristã, cuja religião apregoa a antítese do consumismo, tendo apenas conseguido tornar esta quadra numa época transversal a todos após o capitalismo a ter tomado de assalto.

Talvez este tipo de problemas exista porque Deus criou o mundo em seis dias o que, convenhamos, é pouco tempo para tanto aparato. Deixou muitas pontas soltas e, não contente, ainda se deu ao luxo de descansar ao sétimo dia, tal e qual um funcionário público que não recebe horas extra. É certo que trabalhou a um sábado mas, caramba, se sabia que apenas iria trabalhar seis dias, o mínimo era ter-se voluntariado para fazer o fim-de-semana. Depois não se admirem que tenha escolhido, para representar o nascimento do seu filho, um velho obeso e mandrião, que nem tem o cuidado de fazer a barba para estar apresentável no único dia do ano em que trabalha.

Quanto a Jesus Cristo, começou logo com o azar de nascer no dia de Natal, pelo que esteve sempre condenado a receber uma prenda dos familiares mais próximos com a velha máxima de que é só uma, mas tem o valor de duas. Nasceu numa religião que é contra a inseminação artificial e a infidelidade e talvez por isso tenha nascido por "milagre". Sofreu a vida toda, morreu por nós tentando salvar-nos, mas esqueceu-se, claramente, da Maria Leal, de mim e de outros tantos. Sem ter descanso, ressuscitou ao terceiro dia e, quando se preparava para organizar a vida, subiu aos céus, sem tomar nenhum Vomidrine, sujeito a ficar nauseado com as alturas.

Há quem mantenha a crença de uma segunda vinda do Messias à Terra, pelo que dei comigo a pensar no porquê desta demora. Sinceramente, não creio que venha nesta altura. Dezembro é o mês do Natal e da passagem de ano e já há muita coisa a acontecer ao mesmo tempo. Sujeitava-se a aparecer e o Município ser criticado por não saber espaçar os grandes eventos. Além de que, se aparecesse antes de 24 e se intitulasse de Messias, sujeitava-se a levar um encontrão pela azáfama das compras de última hora. Janeiro é um mês mau porque ninguém sai à rua. Gastaram o dinheiro todo no mês anterior e não é boa altura para aparições. Em Fevereiro há o dia dos namorados (onde os casais se encontram em filas intermináveis para jantar, forçados pela sociedade a mostrar felicidade), em Março é o carnaval e sujeita-se a aparecer alguém com um disfarce melhor que Cristo, em Abril vem a Páscoa e as pessoas só abrem a porta ao Compasso e, posteriormente, metem-se as férias grandes e o Messias arrisca-se a aparecer e não estar cá ninguém.

Se o mundo foi mesmo criado em seis dias, até fez um bom trabalho. Esta conjunção no início da frase mostra uma exigência na medida exacta da incerteza. O problema é que somos incessantemente desconfiados, já religiosos somos apenas de quando em vez.