Os problemas de Aaron Hernandez com a justiça norte-americana começaram em 2012. No dia 16 de julho desse ano, o atleta ter-se-á envolvido num duplo homicídio à saída de uma discoteca em Boston. Foi acusado pelo assassinato de duas pessoas e por balear o amigo Alexander Bradley. Mas foi ilibado de todas as acusações de ofensa à integridade física.

Foi outro caso que acabou por colocá-lo atrás das grades: o assassinato de Odin Lloyd. Aaron Hernandez foi condenado a prisão perpétua e acabou por se enforcar no dia 19 de abril na cela do Baranowski Correctional Center, em Massachusetts.

Considerado um jogador proeminente com uma ascensão meteórica na liga de futebol americano (NFL), Aaron Hernandez jogava nos New England Patriots, a equipa de Massachusetts que venceu o Super Bowl na última época. Quando foi detido, tinha um contrato multimilionário avaliado em 41 milhões de dólares com o clube.

Autópsia revela Encefalopatia Traumática Crónica

Um exame detalhado ao cérebro de Aaron Hernandez mostrou que o órgão do atleta estava profundamente danificado por um caso avançado de Encefalopatia Traumática Crónica (ETC). O estado do jogador era tão grave que parecia que o órgão pertencia a um atleta pugilista de 60 anos.

"A ETC é uma doença degenerativa que tem como gatilho inicial o trauma repetitivo em qualquer parte da cabeça", comenta Paulo Caramelli, neurologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, à BBC.

A ETC causa transtornos de comportamento como agressividade, depressão e falta de controlo emocional, além de distúrbios cognitivos como perda de memória e demência. A análise ao cérebro de Hernandez foi realizada por especialistas independentes do Hospital da Universidade de Boston numa espécie de operação secreta, para evitar que o caso atraísse atenção mediática.

Missão secreta

De acordo com o jornal The New York Times, o órgão foi levado para um laboratório fora do centro de Boston e passou a ser designado por um pseudónimo: só três pessoas da equipa da neuropatologista Ann McKee - que há anos estuda a doença em jogadores de futebol americano - conheciam a identidade do dono do órgão.

Ao fatiar o cérebro em pedaços de 13 milímetros, os investigadores detetaram a existência de "cavernas" incomuns no órgão que se terão expandido à medida que o tecido cerebral encolhia.

Para além de outros sinais de demência, o principal indicador da doença só foi encontrado quando os cientistas observaram o cérebro de Hernandez ao microscópio: o órgão estava impregnado de proteínas tau, pequenas moléculas que matam as células nervosas e os neurónios. Esse processo destrói as conexões entre as áreas cerebrais que processam determinadas funções, como as emoções e a memória.

No caso de Hernandez, as proteínas ocupavam todo o córtex frontal e a amígdala cerebral, partes do cérebro que controlam a tomada de decisão, os impulsos, o medo, a ansiedade e os comportamentos sociais. A constatação dos cientistas foi só uma: Aaron Hernandez estava demente, mas ninguém percebeu.

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