O Acidente Vascular Cerebral (AVC) mantém-se persistentemente como a principal causa de morte em Portugal. Mas, por ventura, ainda mais alarmante do que a sua mortalidade é a significativa incapacidade que pode causar, tornando doentes dependentes dos cônjuges, dos filhos, netos e da própria sociedade, com um efeito potencialmente devastador em todos.
Os dados da sua prevalência continuam assustadores: uma em cada 4 pessoas será vítima de um AVC durante a sua vida. No entanto, todas estas consequências poderão ser evitadas instituindo medidas adequadas à sua prevenção e garantindo que os doentes consigam chegar a tempo ao hospital, recebendo o tratamento adequado o mais rapidamente possível.
Tentando simplificar, um AVC (Acidente Vascular Cerebral) é uma doença súbita em que uma parte do cérebro deixa de trabalhar devido a um problema nos vasos sanguíneos do cérebro, impedindo a chegada de oxigénio e nutrientes a determinadas áreas do nosso cérebro.
Existem duas formas essenciais: AVC isquémico, no qual um vaso entope, e AVC hemorrágico, em que o vaso cerebral rompe. É uma doença de começa de forma abrupta, mas a sua história natural começa anos antes com os suspeitos do costume: sedentarismo, obesidade, tabaco, álcool, tensão arterial e colesterol elevados, diabetes, doenças cardíacas como a fibrilação auricular, entre outros. Prevenir é melhor do que remediar e o mesmo se aplica ao AVC.
No último ano, o país e o mundo têm sido atropelados pela pandemia COVID-19. Os seus efeitos têm-se notado também nos cuidados aos doentes com AVC, com impacto negativo relevante nas taxas de incapacidade e mortalidade provocadas por AVC em Portugal. Estes dados estarão em provável relação com maior dificuldade no acesso aos cuidados de saúde, mas também com o receio dos doentes em procurar o hospital para tratamento, devido ao medo da infeção por coronavírus. Esta é uma realidade que a Sociedade Portuguesa do AVC tem procurado combater, com iniciativas a nível populacional, cuidados de saúde primários e cuidados hospitalares.
As equipas das diferentes Unidades de AVC do país continuam a estar e mantiveram-se sempre disponíveis para todos os doentes em fase aguda do AVC. E não podemos esquecer os efeitos potencialmente catastróficos de um AVC. Assim, não deve existir nenhum receio, nem nenhuma demora! Perante suspeita de AVC de alguém próximo a atitude deve ser só uma: telefonar ao 112!
Um problema recorrentemente identificado é que, apesar de constituir um dos principais problemas de saúde pública, muitas pessoas não sabem identificar os sintomas de um AVC ou não os consideram suficientemente graves para chamarem uma ambulância, pedindo primeiro ajuda a familiares, amigos ou até médicos conhecidos.
Os sinais de alarme são claros, os 3 F’s:
Desvio da Face, falta de Força de um lado do corpo e dificuldade na Fala. Quanto mais cedo se detetar qualquer um destes sinais, maior será a probabilidade de chegar a tempo de tratamento eficaz no hospital, salvando vidas e evitando sequelas! Mesmo nesta época da COVID-19, parar o AVC continua a ser uma missão de todos!
Assim, existem duas mensagens principais que, como Sociedade Portuguesa do AVC, gostávamos de deixar neste dia:
- Pedimos a todos os cidadãos que estejam atentos e informados sobre os sinais de alerta do AVC: os 3 F’s (falta de Força num braço, desvio da Face e dificuldade na Fala);
- O AVC é uma emergência! Perante suspeita de AVC deve acionar SEMPRE o 112! E não esperar que passe ou desvalorizar, uma vez que, inicialmente, os sintomas podem ser frustes. Lembre-se de que, mesmo nos casos em que os sintomas não são graves desde o início, estes poderão vir a agravar-se nas próximas horas e depois já não haverá oportunidade para chegar ao hospital a tempo de receber tratamento eficaz!
Todas as pessoas, de qualquer idade, podem ter um papel ativo na diminuição da mortalidade e morbilidade por AVC, contribuindo para o rápido atendimento e prestação dos melhores cuidados aos doentes.
Nesse sentido, a SPAVC associou-se à Campanha internacional “Fast Heroes 112”. Esta iniciativa foi criada a pensar nos mais novos e nos seus familiares, principalmente os mais idosos. Tem como objetivo transformar as crianças entre os 5 e os 9 anos nos super-heróis lá de casa, comunicando as importantes mensagens já referidas. São várias as atividades e materiais disponibilizados para os mais novos e estão acessíveis de forma gratuita em: https://pt-pt.fastheroes.com.
Como mensagem final, relembramos que o AVC não fica confinado em casa. Continua a tratar-se da principal causa de mortalidade e incapacidade em Portugal. Está na mão de todos nós fazermos tudo para contrariar isto!
Um artigo do médico João Sargento Freitas, especialista Neurologia no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e membro da Direção da Sociedade Portuguesa do AVC.
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