Numa aparição na residência presidencial, em Dar el Salam, a capital económica do país, Samia Suluhu Hassan disse que tenciona “criar uma comissão técnica para rever a questão do coronavírus”.

A chefe de Estado afirmou que o objetivo deste comité é “examinar cientificamente os remédios globais e depois aconselhar o governo, de uma forma profissional”, considerando que “não é sensato silenciar, rejeitar ou aceitar sem uma investigação técnica”.

“Não nos podemos isolar como uma ilha e não podemos receber tudo o que entra, sem fazer a nossa investigação”, afirmou aquela que é a única mulher chefe de Estado com poder executivo em África, citada pelos meios de comunicação locais.

Magufuli tinha descartado a ameaça de pandemia de covid-19, enquanto assegurava que Deus protegeria os tanzanianos.

Além disso, o falecido presidente tinha-se oposto ao uso de máscaras e ao distanciamento social, ao mesmo tempo que criticava o uso de vacinas como parte de uma conspiração ocidental para apoderar-se das riquezas de África.

Como resultado desta política, a Tanzânia não publica dados sobre a covid-19 desde maio de 2020 (os números pararam em 509 casos e 21 mortes), apesar de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter apelado à transparência do governo, em variadíssimas ocasiões.

Hassan, que sucedeu ao falecido chefe de Estado, por mandato constitucional como vice-presidente do país, anunciou a morte de Magufuli a 17 de março, aos 61 anos de idade, em Dar el Salam, devido a uma doença cardíaca e decretou duas semanas de luto nacional.

Desde a sua última aparição pública, a 27 de fevereiro, circularam muitos rumores sobre a saúde do ex-presidente, falando-se pode ter procurado assistência médica no estrangeiro após ter sido infetado pelo novo coronavírus. De acordo com a oposição, o ex-chefe de Estado morreu de covid-19, embora isto não tenha sido oficialmente confirmado.

Na sua aparição hoje, que se seguiu à tomada de posse de vários responsáveis governamentais, Hassan ordenou também ao Ministério da Informação que levantasse a proibição de exercício da atividade imposta a alguns meios de comunicação social.

“Ouvi dizer que existem meios de comunicação social que vocês [Ministério da Informação] proibiram de exercerem as suas atividades. Permita-lhes, mas sigam as leis e diretrizes do país”, afirmou a Presidente.

Desde que chegou ao poder, em 2015, Magufuli corroeu a liberdade de imprensa e de expressão na Tanzânia, tal como denunciaram várias organizações de direitos humanos.

África regista um total de 114.083 mortes associadas à covid-19 desde o início da pandemia, e mais de 4,2 milhões de casos de infeção, segundo os dados oficiais mais recentes no continente.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.862.002 mortos no mundo, resultantes de mais de 131,7 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.