A dermatite atópica é uma doença inflamatória da pele, com uma prevalência de cerca de 15-20% na população pediátrica e 2-10% na população adulta. Esta patologia atinge predominantemente a faixa etária pediátrica, e, embora resolva pela altura da adolescência na grande maioria dos casos, as apresentações mais graves ou resistentes a terapêutica poderão persistir para a idade adulta. Para o aparecimento desta doença dermatológica contribuem diversos fatores genéticos e ambientais, nomeadamente o défice da função de barreira cutânea, o desequilíbrio do microbioma cutâneo (isto é, um desarranjo da normal composição e comportamento dos microorganismos que vivem na pele), e um subtipo de atividade inflamatória (que se encontra desregulada e aumentada).

Na pele dos doentes com dermatite atópica surgem lesões de eczema (ou dermatite), distribuídas em diversas áreas do corpo. O prurido (ou comichão), principal queixa associada à dermatite atópica, é um sintoma altamente incapacitante no dia a dia dos doentes. O seu impacto no sono, na concentração e aprendizagem, no humor, e na disposição para atividades lúdicas conduz a importantes consequências na qualidade de vida dos doentes e cuidadores. Na dermatite atópica, para além das lesões de eczema, há também uma maior suscetibilidade para aparecimento de infeções cutâneas, com consequente necessidade de antibioterapia. A apresentação clínica extremamente sintomática da doença conduz a frequente absentismo escolar/laboral e recorrência aos serviços de saúde.

Não é assim de estranhar, que quando esta patologia dermatológica não está corretamente controlada, encontramo-nos perante um problema que ultrapassa a índole clínica, uma vez que a doença terá um impacto na esfera familiar, escolar, laboral, social e económica.

Apesar de ser uma patologia complexa e heterogénea, o estudo ao longo dos últimos anos das vias inflamatórias responsáveis pela dermatite atópica proporcionou o aparecimento de terapêuticas dirigidas, altamente eficazes, e que têm a capacidade de controlar clinicamente os sinais e sintomas das apresentações moderadas e graves. Assim, as opções de tratamento atuais seguem uma lógica de escada terapêutica regida pela apresentação e gravidade da manifestação do doente. Desta forma, apresentações clínicas ligeiras e localizadas são controladas com medicamentos de aplicação local, enquanto que as manifestações extensas e graves são tratadas para além das medidas locais com terapêutica sistémica (oral ou injetável). Os fármacos sistémicos aprovados para tratamento de formas graves de dermatite atópica são de uso exclusivo hospitalar, sendo o tipo de tratamento a utilizar baseado nas características individuais do doente. Estes apresentam uma elevada eficácia e um perfil de segurança muito favorável, nomeadamente os medicamentos biológicos, o que permite serem utilizados para controlo a longo prazo desta doença.

É portanto importante a identificação e referenciação destes doentes, para os quais as terapêuticas locais (suficientes em casos ligeiros), não são capazes de manter a doença sob controlo. A acessibilidade a tratamentos inovadores permite o controlo da doença, com impacto a nível de absentismo e recorrência não programada a cuidados de saúde, com benefícios económicos globais – mas acima de tudo – o ganho da qualidade de vida destes doentes.

Um artigo da médica Inês Raposo, dermatologista no Centro Hospitalar Universitário de Santo António no Porto.