"Embora muito associada a dor dorsal ou lombar, a escoliose idiopática é uma patologia relativamente silenciosa sendo o primeiro sintoma a deformidade estética do tronco, tão valorizada, que acaba por surpreender os adolescentes e os pais", começa por explicar o médico Pedro Fernandes, ortopedista no Hospital de Santa Maria.

"É hoje bem reconhecida a forte correlação entre a deformidade do tronco e a baixa da autoestima entre as crianças afetadas. Só em casos mais avançados poderá haver compromisso respiratório e por último cardíaco, sobretudo em escolioses de origem muito precoce e quando não tratadas. A incidência de dor nos adolescentes com escoliose por sua vez é sobreponível à da população em geral", acrescenta o especialista.

O médico esclarece que  "a abordagem terapêutica vai desde a simples observação ao famigerado colete como opções conservadoras, onde a participação em atividades desportivas ou reabilitação deverá ser encorajado. Por fim, em casos de deformidades avançadas, a cirurgia é a opção a ser equacionada, procedimento que, dados os avanços registados nos últimos anos, se tem revelado muito segura e eficaz".

A escoliose caracteriza-se por ser a principal deformidade da coluna em crianças e adolescentes, sendo mais comum a partir dos 10 anos e mais frequente no sexo feminino, já que oito em cada 10 casos dizem respeito a raparigas.

A escoliose é uma doença que pode ter várias causas, no entanto, mais de 70% dos casos diagnosticados não apresentam nenhuma razão conhecida. Ainda assim, é fundamental que os pais e os educadores estejam atentos aos primeiros sinais de alerta, procurando ajuda junto do médico de família ou do pediatra, como forma de chegar a um diagnóstico precoce.

Sinais de alerta

A existência de uma diferença de altura entre os ombros, o descair de um dos lados da cintura ou a identificação de uma proeminência da caixa torácica são alguns dos sinais a ter em conta.

O diagnóstico atempado, o tratamento adequado - que pode passar pela utilização de um colete de correção ou, em casos mais complexos, a realização de uma cirurgia à coluna - e a partilha de informação sobre os riscos desta patologia são instrumentos fundamentais para minimizar o impacto da escoliose na vida de uma criança e/ou jovem. Formas mais leves de escoliose podem causar um leve desconforto. Nas formas intermédias, provoca uma deformidade em forma de “S”, claramente visível aos olhos e, nas formas mais graves, os doentes apresentam dores crónicas, órgãos internos afetados pela diminuição de espaço, que podem levar a uma diminuição da esperança média de vida.

Há ainda outra consequência - o impacto na autoestima - que muitas vezes não é abordada e parece secundária, mas que, aos dias de hoje, com o exponencial crescimento e alcance das redes sociais, ganha outra dimensão. Nove em cada 10 jovens afirma já ter tido contacto com conteúdos de beleza tóxicos, que geram consequências na sua autoestima. Sendo a escoliose uma doença que afeta a imagem corporal, fazendo com que esta não corresponda aos padrões de beleza generalizados e que são ainda potencializados nas redes sociais, pode gerar-se uma perceção negativa do corpo. Por vezes, este problema junta-se a outros complexos já normais destas idades de mudança e que pode ter um forte impacto negativo na autoestima e na saúde mental das crianças e jovens.

Segundo o médico João Lameiras Campagnolo, ortopedista no Hospital Dona Estefânia e coordenador da campanha Josephine explica a Escoliose, "as crianças e jovens que não recebem o tratamento adequado e atempado, vão sentir as consequências ao longo da sua vida. É, por isso, fundamental a união de esforços de pais, encarregados de educação e corpo docente, para que se consiga identificar os sinais, contribuindo para o diagnóstico precoce".

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