No estudo, a que Agência Lusa teve hoje acesso, os autores sublinham que os dados deixam “a descoberto vulnerabilidades socioeconómicas profundas, que têm tornado extremamente penoso o cumprimento das medidas restritivas do estado de emergência, no âmbito das medidas de combate a Covid-19″.
De acordo com os dados recolhidos, mais de um terço de uma população total de 30 milhões sofreu situações de extrema pobreza, nos 12 meses anteriores ao estudo, ficando “muitas vezes” ou “sempre” privados de bens essenciais, incluindo salários ou outras formas de rendimentos.
O documento realça que Angola está a viver um longo período de estado de emergência, com isolamento social, desde o final de março, para combater a propagação da pandemia e embora pareça haver um amplo acordo entre os decisores políticos e os cidadãos sobre a necessidade de se implementar estas medidas, o Governo e seus parceiros de desenvolvimento devem executar estratégias que possibilitem mitigar o impacto do cumprimento do confinamento pelas famílias mais carenciadas.
“Mais de um terço (35%) dos angolanos viveu em situação de “extrema pobreza” durante o ano anterior à pesquisa, o que significa que eles sofreram frequentemente com a escassez de alimentos, água potável, assistência médica e medicamentosa, combustível para cozinhar e de salário ou outros rendimentos”, aponta o estudo.
Os dados apontam que aproximadamente a mesma proporção (34%) experimentou a “pobreza moderada” e apenas 7% relataram não ter vivido situações de escassez de bens essenciais, sendo as situações de “pobreza extrema” relatadas com maior frequência nas zonas rurais (46%, contra 30% nas áreas urbanas) e nas regiões leste (51%) e sul (41%).
No período em referência, indica o inquérito, mais de um terço dos angolanos (36%) ficou sem salários ou outros rendimentos “muitas vezes” ou “sempre” durante o ano anterior à pesquisa, além dos 32% que viveram esta situação “apenas uma ou duas vezes” ou “várias vezes”.
“Apenas um em cada quatro (26%) tiveram regularmente salários ou outros rendimentos”, refere o estudo, acrescentando que esta situação é mais comum nas áreas rurais (44%) do que nas cidades (38%) e é mais marcante na região centro (44%).
No que se refere à questão sobre alimentação, os dados apontam que dois terços (67%) dos angolanos ficaram sem comida suficiente pelo menos uma vez durante o ano de 2018, incluindo um em cada cinco (21%), que ficaram “muitas vezes” ou “sempre”, principalmente nas regiões leste (77%) e centro norte (70%).
Relativamente à assistência médica e medicamentosa, em 2018, cerca de oito (75%) em cada dez angolanos não beneficiaram dela, incluindo um terço (32%) que não tiveram atendimento médico “muitas vezes” ou “sempre”, destacando-se a região leste, com quase metade (45%) dos moradores sem esse direito a essa necessidade básica.
O primeiro inquérito de opinião pública em Angola da Afrobarómetro foi realizado junto de 2.400 angolanos adultos, entre 27 de novembro e 27 de dezembro de 2019, tendo uma margem de erro de cerca de dois pontos percentuais e um nível de confiança de 95%.
A Afrobarómetro é uma rede de pesquisa pan-africana e não partidária, que fornece dados quantitativos fiáveis sobre a vivência e avaliação dos africanos sobre a democracia, governação e qualidade de vida.
A organização já realizou sete rondas de pesquisas de opinião pública em 38 países, entre 1999 e 2018, estando a oitava ronda prevista em 35 países africanos, entre 2019/2020.
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