De acordo com dados do Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes, compilados num documento que analisa os anos de 2019, 2020 e 2021, com a limitação do acesso a estes registos houve uma “significativa redução” dos indicadores apresentados, o que resultou “num empobrecimento da informação”.

Aponta ainda uma quebra de série relativamente aos indicadores analisados, uma vez que estes são disponibilizados pelo Ministério e não calculados pelo observatório.

No documento, a que a Lusa teve acesso, os autores referem ainda a interrupção da publicação de parte da informação relativa à incidência da diabetes, “resultante da disrupção verificada na atividade da rede de Médicos Sentinela durante o período pandémico”.

Reconhecem que a pandemia associada à covid-19 “teve especiais reflexos na atividade médica da diabetes nos cuidados de serviços primários”, com especial reflexo no ano de 2020.

Comparativamente ao ano de 2019, foram realizadas menos 261.922 consultas de diabetes em 2020, “o que se traduz numa uma diminuição de 12,3% da assistência médica”, refere o documento, acrescentando: “Não obstante o crescimento registado em 2021, o número de consultas de Diabetes é ainda deficitário comparativamente aos valores de 2019”.

A representatividade das consultas de diabetes no total das consultas médicas realizadas nos Cuidados de Saúde Primários baixou nos últimos oito anos, passando de 8,1% em 2014 para 5,6% em 2021.

Os autores do relatório atribuem esta perda de representatividade a fatores como a diminuição (-15,6%) no número de consultas de diabetes, o que representa menos 374.426 consultas registadas.

Esta realidade é contrária à tendência de crescimento verificada no movimento assistencial global dos cuidados primários (+21,1% de consultas médicas entre 2014 e 2021, com especial realce para o crescimento de 14,2% registado nos últimos dois anos).

O relatório do Observatório Nacional da Diabetes, uma estrutura integrada na Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD), regista uma evolução positiva de alguns indicadores, como a diminuição do número absoluto dos internamentos associados a descompensação/ complicações da doença, mas sublinha que “não se pode baixar a guarda” pois há indicadores negativos “com evoluções preocupantes”.

Exemplifica esta evolução negativa com o peso crescente da presença da diabetes nos internamentos hospitalares, o aumento da letalidade intra-hospitalar e a manutenção o número das amputações dos membros inferiores, a quebra na prestação de cuidados de saúde primários em diabetes associada ao período pandémico — “que em muitos indicadores ainda não atingiu os valores de 2019” – e o aumento da despesa com medicamentos.