O consumo de álcool pelos idosos está a aumentar em Portugal, uma realidade “escondida” ligada muitas vezes ao isolamento e que exige respostas integradas da sociedade, alertam especialistas.
Segundo o presidente da Associação Portuguesa de Gerontopsiquiatria, os idosos consomem muitos psicotrópicos, principalmente as mulheres, e recorrem também ao álcool, muitas vezes para fugir de situações que os atormentam.
“Há muito abuso de psicotrópicos, sobretudo de benzodiazepinas, na população, mas principalmente em idosos que fazem esta medicação há anos e particularmente as mulheres”, disse à agência Lusa Horácio Firmino, dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Horácio Firmino considerou que esta situação configura uma nova tendência e, juntamente com o álcool, está desvalorizada.
“Tem-se uma ideia erradamente que o consumo de substâncias deste tipo é essencialmente nos jovens”, mas com a evolução e o envelhecimento da população vai encontrar-se, dentro de uma patologia cultural, o consumo de substâncias como cannabis, cocaína e heroína pelos idosos, observou
Esta situação, alertou, “levanta problemas” em termos de organização e desenvolvimento de serviços.
Já no que se refere à saúde mental, deve apostar-se na ação psicoterapêutica, com a “redução substancial” da prescrição de medicamentos que tem efeitos secundários, defendeu.
“Numa sociedade em que a percentagem de idosos começa a ser significativa (cerca de 17%) não existem ainda repostas integradas em termos de cuidados de saúde para os mais velhos”, realçou Horácio Firmino.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria refere, por seu turno, que este problema “muito frequente” e “crescente” está muito associado ao isolamento: “Cerca de 20% das pessoas vivem só e é neste grupo que o alcoolismo está a ter um efeito muito pesado e negativo”.
“A depressão dá desespero e as pessoas como compensação são levadas a beber de uma forma intoxicante. É um problema nos idosos, um problema oculto, que afeta principalmente as mulheres”, lamentou Manuel Carrageta.
Para atenuar este problema, Manuel Carrageta defende que devem ser criados programas para evitar que as pessoas vivam sós, como a criação de centros de terceira idade em todos os bairros, com psicólogos que prestem atenção “às pessoas deprimidas e isoladas”.
Alertou ainda para o “impacto terrível” destes vícios: ”A pessoa torna-se negligente, a saúde mental é afetada, aumentam os acidentes em casa e surgem problemas cardiovasculares, de doenças hepáticas e neurológicas”.
Ressalvando que não conhece dados estatísticos sobre esta realidade, o geriatra Gorjão Clara está convicto de que o “agravamento das condições económicas e as dificuldades de acesso à saúde podem contribuir para um aumento do consumo do álcool pelos idosos”.
Em relação ao consumo de drogas pelos idosos, o geriatra tem dúvidas: “São demasiado pobres para poder comprar drogas e também não têm essa cultura, mas o álcool é de acesso mais fácil e é mais barato”.
Esta realidade atravessa outros países. Um estudo do Royal College of Psychiatrists destaca uma série de problemas em torno do uso de álcool e outras drogas por pessoas mais velhas no Reino Unido.
O estudo, divulgado pelo British Medical Journal, revela que está a aumentar o número de idosos que bebe álcool em excesso e estima que a prescrição inadequada de benzodiazepinas e outras drogas psicotrópicas atinja um quarto das pessoas com mais 65 anos.
O álcool e as drogas ilícitas estão entre os dez fatores de risco para a mortalidade e morbilidade na Europa e o abuso de substâncias pelos idosos é um problema crescente de saúde pública, refere o estudo inglês.
26 de outubro de 2011
Fonte: Lusa
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