Os sistemas de saúde enfrentam um desafio global, com a crescente escalada de custos e a ambição de superar constantemente o seu nível de qualidade. Assim, a discussão sobre a sustentabilidade dos sistemas de saúde e, em específico, do SNS, precisa ser assente num modelo estratégico que equilibre qualidade, eficiência e sustentabilidade.
Um dos principais fatores de pressão sobre os sistemas de saúde, especialmente em países como Portugal, é o envelhecimento da população aliado ao aumento da esperança média de vida (EMV). Esta combinação de fatores leva a um aumento natural da procura por cuidados de saúde, potenciado ainda pelo aumento da prevalência de doenças crónicas e comorbilidades, tornando os cuidados de saúde mais complexos, personalizados e frequentes. Além disso, o avanço das tecnologias e o aparecimento de tratamentos inovadores permitem ganhos inestimáveis, não só em EMV, mas também em Qualidade de Vida (QdV).
Considerando ainda o que a teoria económica nos ensina, os ganhos em saúde obedecem à lei dos rendimentos marginais decrescentes, o que significa que, para tentar manter um mesmo nível de saúde, um doente terá que aumentar, progressivamente, o seu consumo de recursos de saúde.
Assim, estes ganhos têm um custo cada vez mais elevado para os sistemas de saúde e, muitas vezes, quase incomportável, criando uma espiral de custos que facilmente se pode descontrolar.
Neste cenário, Michael Porter apresentou-nos o modelo de Cuidados de Saúde Baseados em Valor, ou Value-Based Healthcare (VBHC), que procura uma resposta estratégica para maximizar os resultados para o doente em função dos custos incorridos, numa lógica de maximização do bem-estar e minimização dos custos, procurando a sustentabilidade financeira dos sistemas de saúde.
Em Portugal tem-se assistido a um crescendo de projetos desenvolvidos no âmbito do VBHC, alguns já com resultados muito promissores, como o Projeto da Cirurgia da Catarata ou o Projeto Embrace, no âmbito da Esclerose Múltipla. Além disso, existe também uma aposta crescente na formação em VBHC, desenvolvida por diversas entidades e, ainda, programas que estimulam as entidades do SNS a pensar e desenvolver projetos de VBHC, prestando apoio técnico à sua execução. Está, por isso, criada uma janela de oportunidade que deve ser aproveitada pelas Instituições do SNS, trazendo mais valor para a sua atividade e para os seus doentes.
Torna-se, por isso, essencial dotar os profissionais de saúde e decisores, não só políticos mas também os administradores hospitalares, do conhecimento e das ferramentas necessárias à adoção deste modelo de pensamento, promovendo o seu comprometimento com a sustentabilidade e qualidade do SNS e colocando o doente no centro dos cuidados, priorizando, assim, os resultados que realmente importam. Esta deve ser a estratégia para garantir que o SNS permanece eficiente, sustentável e acessível para as próximas gerações.
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