A investigação de um cientista português atirou por terra a ideia estabelecida de que as sirtuínas, proteína existente nas leveduras, incluindo a do pão, e batizada "gene da longevidade", prolongariam a vida.
Num artigo publicado hoje na reputada revista científica britânica Nature, Filipe Cabreiro, 30 anos, sustenta que as sirtuínas “não têm efeito nenhum na longevidade” humana, ao contrário do que foi dado como adquirido durante vários anos, disse o cientista à agência Lusa.
Desde que foi anunciado por cientistas, em 1999, que aquela proteína prolongaria a vida humana, as empresas farmacêuticas aguçaram o seu interesse económico pela substância, perante a perspetiva de que estariam na presença do medicamento mais apetecido pelos consumidores.
Entre os negócios que se realizaram desde então destaca-se a compra da empresa ligada à descoberta, em 2003, pelo gigante farmacêutico Glaxo SmithKline por 720 milhões de dólares.
Um ano depois surgiram os primeiros estudos que colocam em causa a anterior tese de que os genes da sirtuína, quando hiper-ativados, prolongavam a vida de um verme e da mosca da fruta, usados nas experiências, nalguns casos até 50 por cento.
O ativador da proteína seria o resveratrol, um produto natural existente no vinho tinto, com o qual se começaram até a produzir cremes anti-envelhecimento.
No estudo que o bioquímico Filipe Cabreiro realizou, com a colaboração dos seus colegas do Institute of Healthy Ageing do University College London e outros cientistas da Universidade de Washington (Seattle) e da Universidade de Semmelweis (Budapeste), começaram por examinar duas estirpes de vermes usadas em dois dos estudos originais, ambas manipuladas geneticamente de modo a conterem o gene das sirtuínas hiper-ativado, refere um resumo do texto que é publicado hoje.
Estes animais transgénicos (com genes de outra espécie) viviam de facto bastante mais tempo do que os vermes de tipo selvagem (não manipulados geneticamente) tal como tinha sido descrito por outros grupos.
Contudo, quando os vermes manipulados eram cruzados com vermes de tipo selvagem - de forma a terem um fundo genético igual que permitisse ter a certeza que os resultados só se deviam à sirtuína - os transgénicos passavam a ter uma longevidade normal apesar de os altos níveis de sirtuínas se manterem, acrescenta.
Conclui-se então que seria outro fator genético o responsável pela longevidade anormal dos animais manipulados. Numa das duas estirpes originais, Filipe Cabreiro identificou este fator como sendo um gene do desenvolvimento das células nervosas.
Quando usaram moscas da fruta, chegaram também à conclusão que a causa do aumento da sua longevidade não eram as sirtuínas.
Quando apresentou pela primeira vez em público as suas conclusões, num congresso em Boston, Filipe Cabreiro disse ter recebido ataques pessoais de muitos cientistas defensores da teoria da associação daquelas proteínas ao prolongamento da vida humana, ilustrando o impacto que o seu trabalho teve na comunidade científica.
Agora, o cientista português a trabalhar em Londres há três anos está a estudar uma droga anti-diabética que, essa sim, admite que possa aumentar a longevidade, disse o investigador à Lusa.
22 de setembro de 2011
Fonte: Lusa
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