15 de outubro de 2013 - 15h58
O Dia Mundial da Alimentação assinala-se na quarta-feira com o alerta de que 842 milhões de pessoas passam fome no mundo e mais dois mil milhões têm deficiências nutritivas, disse à Lusa o representante da FAO em Lisboa.
"Continuamos a ter 842 milhões de pessoas que passam fome. Uma em cada oito pessoas no mundo passa fome", lamentou Hélder Muteia, em entrevista à Lusa.
O representante da agência da ONU para a alimentação e a Agricultura (FAO) em Lisboa e junto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) acrescentou que todos os anos morrem 2,5 milhões de crianças com fome e dois mil milhões de pessoas têm deficiências nutritivas, ou seja, não dispõem de vitaminas e minerais suficientes para uma vida saudável.
Por outro lado, 1,4 mil milhões de pessoas vivem atualmente com excesso de peso, das quais quase 500 milhões sofrem de obesidade, o que acarreta ameaças de doenças cardiovasculares e diabetes.
Todos os anos, alertou, 3,5 biliões de dólares gastos em saúde - 500 dólares por pessoa - poderiam ser poupados se estivesse garantida uma alimentação saudável para todos.
"Teríamos menos gente a ir aos hospitais e mais qualidade de vida, logo maior capacidade produtiva", referiu Muteia.
É neste âmbito, no facto de a má nutrição impor custos elevados à sociedade, que se insere o lema do Dia Mundial da Alimentação deste ano: "Pessoas saudáveis dependem de sistemas alimentares saudáveis".
"Com este tema pretendemos chamar a atenção para a necessidade de que a alimentação garanta saúde e para isso é importante que as pessoas estejam bem alimentadas", explicou o representante da FAO.
Mas além de refletir sobre a saúde do indivíduo, a FAO pretende com esta efeméride refletir sobre a saúde da comunidade e do mundo.
"Ao produzirmos alimentos como indivíduos, como comunidade, temos de pensar também na saúde do mundo, na base de recursos que sustenta a vida no planeta", afirmou.
Daí a preocupação com os sistemas alimentares, que correspondem a todos os processos que garantem a existência de alimentos, "desde a produção, aos mercados, ao acesso, às políticas, tecnologias, crédito, legislação", disse o responsável.
Muteia acredita que hoje, num momento em que os padrões de consumo e de produção "estão, de certa forma, a pôr em risco a base de recursos que garante a vida no planeta", em que a água começa a escassear e há cada vez mais desflorestação e degradação dos solos, é preciso "fazer uma mudança de paradigma".
Para o responsável, a erradicação da fome é possível, mas "depende muito de políticas públicas e lideranças fortes".
Recordando que 98% das pessoas que passam fome estão nos países em desenvolvimento, Muteia explicou que a situação dos países desenvolvidos prova que é possível acabar com a fome: "Se há países onde apenas um ou dois por cento passam fome, é possível, com políticas públicas, com maior coordenação internacional, garantir alimentação para os mais vulneráveis".
SAPO Saúde com Lusa