"Passaram quatro anos e os efeitos da crise quase foram desaparecidos [sem grande dor], nos primeiros três anos. Mas, neste momento, o equipamento, as instituições, começam a fraturar-se", disse Correia de Campos, em declarações à Lusa, à margem do X Congresso Internacional dos Médicos, que se realiza na capital angolana até terça-feira.

O ex-ministro da Saúde do Governo de José Sócrates participa no evento a convite da Ordem dos Médicos de Angola, precisamente para abordar, numa palestra, a qualidade na prestação dos cuidados de Saúde. Algo que diz estar em causa em Portugal, nomeadamente face aos tempos de espera nas urgências e aos casos conhecidos de doentes que "morrem sem ser vistos por um médico".

"O que se passa nas urgências não é resultado, de repente, de uma perda de qualificação dos médicos ou dos enfermeiros. É pura e simplesmente o resultado de continuadamente se ter esvaído os recursos hospitalares das urgências. Reduziram-se as escalas, o valor das horas extraordinárias, os vencimentos dos médicos e dos enfermeiros, de toda a gente", observou.

Perda de qualidade nas urgências

Por isso, atira, as urgências portuguesas apresentam hoje uma "perda de qualidade" e debatem-se com a "incapacidade" sentida pelos profissionais de saúde para tratar os doentes.

"Antigamente, um médico e um enfermeiro tinham prazer em fazer uma noite de urgência, porque aprendiam. Hoje é um enorme sacrifício", sublinhou.

A culpa é da austeridade

O antigo governante socialista defende que a austeridade aplicada na Saúde está na origem destas dificuldades, mas também reconhece méritos à gestão do atual ministro Paulo Macedo, que "conseguiu aguentar" quatro anos com "cortes muitos grandes" no orçamento daquele ministério.

"Alguns deles [cortes] inimagináveis, conseguiu fazer baixar os encargos da fatura dos medicamentos por mérito dele. Um bom diplomata, conseguiu fazer tudo isso sem grande barulho, sem grande dor", aponta Correia de Campos, enfatizando que o país também demonstrou "estar psicologicamente preparado" para o ajustamento orçamental.

"Mas agora acho que chegou a um pronto em que ele não pode apertar mais a tarraxa, tem de, pelo contrário, desatarraxar as constrições que existem", rematou.