A recente nomeação de Kamal Khera, enfermeira de 36 anos, como Ministra da Saúde do Canadá, levanta uma questão interessante: qual a razão de nunca termos tido um Ministro/a da Saúde, nem Secretários de Estado da Saúde, enfermeiros/as? E quais seriam as vantagens de um profissional de Enfermagem ocupar este cargo?

Em Portugal, a escolha dos ministros da Saúde tem recaído, historicamente, em perfis com formação em Medicina, Gestão ou Direito. A Enfermagem, apesar de ser uma das bases do sistema de saúde, nunca esteve representada no mais alto cargo da política de saúde. Esta ausência pode dever-se a fatores como:

  • Menor presença da enfermagem na política – Os enfermeiros, apesar de serem uma das classes mais numerosas no setor da saúde, têm menos tradição na participação política e governativa.
  • Foco na gestão e administração – A escolha dos ministros tem privilegiado perfis com experiência em políticas públicas e gestão, áreas em que os enfermeiros estão menos representados.
  • Visão tradicional da saúde – Durante muito tempo, a gestão da saúde foi vista sobretudo sob a ótica do tratamento da doença, em vez da promoção da saúde e da prevenção, áreas onde os enfermeiros têm um papel fundamental.

Esta nomeação mostra que um enfermeiro pode liderar políticas de saúde de forma eficaz. Mas quais seriam as vantagens desse cenário em Portugal?

  • Perspetiva mais próxima da realidade dos cuidados de saúde – Os enfermeiros lidam diariamente com os desafios do sistema de saúde e conhecem de perto as necessidades dos doentes, das unidades de saúde e das equipas multidisciplinares.
  • Atenção à qualidade dos cuidados e condições de Trabalho – Os enfermeiros têm uma visão abrangente das dificuldades enfrentadas no terreno, tanto pelos utentes como pelos profissionais, podendo contribuir para políticas que melhorem o acesso e a eficiência dos serviços.
  • Reforço na promoção da saúde e prevenção de doenças – Com foco em estratégias preventivas e educação para a saúde, um ministro enfermeiro poderia impulsionar políticas que reduzissem a sobrecarga nos hospitais e melhorassem a qualidade de vida da população.
  • Gestão mais eficiente dos recursos humanos – Um ministro da Saúde com experiência em Enfermagem teria maior sensibilidade para equilibrar a distribuição de profissionais, garantindo melhores condições de trabalho e retenção de talento no SNS.

Será possível em Portugal? Embora nunca tenha acontecido, a nomeação de um

enfermeiro para Ministro da Saúde em Portugal poderia trazer um novo olhar sobre a forma como o sistema de saúde é gerido. A experiência do Canadá mostra que essa mudança é possível e pode resultar numa abordagem mais centrada nos cuidados e na saúde da população.

Se Kamal Khera conseguiu alcançar esse cargo, será que Portugal também está pronto para reconhecer que um enfermeiro pode liderar a Saúde de forma inovadora e eficaz?