Quando Kamal Khera foi nomeada Ministra da Saúde do Canadá no passado dia 14 de março, não foi apenas um marco pessoal – foi uma vitória para toda a enfermagem. Sendo uma jovem (36 anos) enfermeira a assumir um dos papéis mais influentes na área da saúde no país, a nomeação de Khera envia uma mensagem forte: os (jovens) enfermeiros não são apenas prestadores de cuidados; podem ser líderes, decisores e agentes de mudança.

Durante muito tempo, os enfermeiros foram os heróis anónimos dos cuidados de saúde, trabalhando à cabeceira da cama, defendendo os doentes e promovendo melhores resultados em saúde. Mas, apesar do nosso profundo conhecimento e experiência na linha da frente, somos frequentemente deixados de fora das discussões que moldam as políticas e os sistemas de cuidados de saúde. Está na altura de isso mudar. Se o percurso de Khera nos mostra alguma coisa, é que o lugar dos enfermeiros é também em cargos de liderança – seja no governo, na administração hospitalar ou em organizações de saúde globais.

Os enfermeiros têm uma perspetiva única sobre os cuidados de saúde. Vemos os desafios que os doentes enfrentam, as lacunas do sistema e o impacto das políticas no dia-a-dia. Esta experiência em primeira mão torna-nos bem equipados para defender reformas significativas e centradas no doente. De facto, a investigação tem mostrado que as lideranças de enfermagem traduzem-se em melhores resultados para os doentes, operações mais eficientes e equipas mais coesas.

Em todo o mundo, a liderança por enfermeiros está a ganhar força. A Organização Mundial de Saúde sublinhou a necessidade de reforçar a força de trabalho de enfermagem, reconhecendo que a concretização dos objetivos globais de saúde depende da presença de enfermeiros em cargos de decisão. Não se trata apenas de ter um lugar à mesa – trata-se de utilizar os nossos conhecimentos para moldar políticas que melhorem as vidas de todos.

Como podemos liderar a mudança…

– Influenciando a política: os enfermeiros devem assumir funções onde possam moldar a política de saúde – seja em ministérios da saúde, conselhos consultivos ou governo local. Sabemos o que funciona e as nossas vozes são importantes para moldar os sistemas de saúde que servem verdadeiramente as pessoas.

– Impulsionar a inovação: à medida que os cuidados de saúde adotam a transformação digital e a integração de ferramentas de inteligência artificial, os enfermeiros têm de assumir a liderança para garantir que a tecnologia apoia, em vez de complicar, os cuidados aos doentes. A nossa experiência prática ajuda a garantir que as inovações são práticas, éticas e centradas nos doentes.

– Promoção da investigação e da educação: a investigação liderada por enfermeiros desempenha um papel crucial na melhoria das orientações clínicas e na abordagem das assimetrias na saúde. Precisamos de investigar mais, de ter mais pessoas a investigar e de mais apoio para os investigadores (em tempo e financiamento).

– Defender a saúde global: os enfermeiros têm um papel vital a desempenhar na defesa da “One Health” – quer se trate de desigualdades na saúde, alterações climáticas ou resposta a catástrofes. Organizações como o Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN) estão a preparar o caminho, mas é necessário que mais enfermeiros se envolvam.

A nomeação de Kamal Khera é então uma inspiração, mas não deve tornar-se um caso isolado. O seu percurso é a prova de que os enfermeiros têm lugar na liderança, e cabe-nos a todos nós – enfermeiros, organizações de cuidados de saúde e decisores políticos – derrubar as barreiras que nos impedem de avançar.

Temos de investir na formação em liderança, criar oportunidades de orientação e mudar a perceção desatualizada de que os enfermeiros são apenas uma profissão de suporte do sistema (por sinal a mais numerosa das profissões de saúde). As universidades e as associações profissionais devem preparar ativamente a próxima geração de enfermeiros para assumir funções de liderança, assegurando que estamos prontos para avançar quando surgirem oportunidades (e fomentá-las sempre que possível).

Os cuidados de saúde estão a evoluir e os enfermeiros devem estar na linha da frente dessa mudança. Não somos apenas prestadores de cuidados – somos inovadores, decisores políticos e líderes na área da saúde a nível mundial. É altura de reivindicarmos o nosso lugar, de falarmos e de moldarmos o futuro dos cuidados de saúde.