1 de maio de 2014 - 07h21

Garrafas, sacos de plástico e redes de pesca foram alguns dos tipos de lixo humano encontrados no mar profundo da Europa, segundo um estudo que destaca a necessidade de ações para impedir o aumento do lixo nos ambientes marinhos.

“O lixo foi encontrado ao longo de todo o Mediterrâneo e costas da Europa, estendendo-se até à crista dorsal mesoatlântica, a 2.000 quilómetros de terra”, lê-se no recente trabalho de investigação a que a Lusa teve acesso, que envolveu 15 organizações de toda a Europa e foi liderado pelo centro IMAR da Universidade dos Açores, sediado no Departamento de Oceanografia e Pescas.

O artigo
científico, intitulado “Marine litter distribution and density in
European Seas, from the shelves to deep basins”, está publicado no
jornal de acesso livre PLOS ONE
.

“A grande quantidade de lixo que chega ao mar profundo é um assunto de importância mundial. Os resultados do estudo destacam a extensão do problema e a necessidade de ações para prevenir a crescente acumulação de lixo nos ambientes marinhos”, sublinham os investigadores.

De acordo com o estudo, que beneficiou de uma colaboração entre dois projetos de investigação - o projeto HERMIONE, financiado pela União Europeia e coordenado pelo Centro Nacional de Oceanografia em Southampton, e o projeto “Mapping the Deep”, liderado pela Universidade de Plymouth -, “o lixo é um problema no ambiente marinho ao ser confundido com alimento por alguns animais, podendo enlear corais e peixes – um processo conhecido como ‘pesca fantasma’”.

Cerca de 600 amostras foram recolhidas pelos cientistas ao longo do oceano Ártico e do oceano Atlântico, incluindo o mar Mediterrâneo, entre os 35 e os 4.500 metros de profundidade, indica o relatório.

“Concluímos que o plástico foi o item de lixo mais comum no fundo marinho, enquanto o lixo associado às atividades da pesca (redes e linhas presas no fundo) são particularmente comuns em montes submarinos, bancos e cristas oceânicas”, precisou Christopher Pham, investigador da Universidade dos Açores.

“Esta pesquisa demonstrou que o lixo humano está presente em todos os habitats marinhos, das praias às zonas mais profundas e remotas dos oceanos”, observou.

“A maior parte do mar profundo continua inexplorada pelos
humanos e esta é a nossa primeira visita a muitos destes locais, pelo
que ficámos chocados ao descobrir que o lixo chegara lá primeiro que
nós”, acrescentou o cientista.

Segundo o estudo, foi encontrado
lixo “em praticamente todos os locais investigados, com o plástico a
contribuir globalmente com cerca de 41 por cento e aparelhos de pesca
abandonados com cerca de 34 por cento do total”, tendo também sido
descoberto “vidro, metal, madeira, papel/cartão, roupa, cerâmica e
outros materiais não identificados”.

Uma das descobertas mais
interessantes, de acordo com a investigadora Kerry Howell, professora
associada no Instituto Marinho da Universidade de Plymouth, foi
“terem-se encontrado depósitos de carvão queimado no fundo marinho,
largados no mar por navios a vapor desde o final do século XVIII”.

“Já
se conheciam alguns depósitos no leito marinho, mas conseguimos
perceber que a sua acumulação está associada às rotas marítimas
modernas, o que indica que os principais corredores de navegação não
foram alterados nos últimos dois séculos”, frisou.

O cientista
Christopher Pham sublinhou que “no geral, as acumulações mais densas [de
lixo] foram encontradas nos desfiladeiros submarinos profundos” e a
investigadora Veerle Huvenne, do Centro do Oceanografia de Southampton,
explica que “os desfiladeiros submarinos formam a principal ligação
entre as águas costeiras e o mar profundo” e que “os desfiladeiros
localizados perto de grandes cidades costeiras, como o desfiladeiro de
Lisboa ou o de Blanes, em Barcelona, podem transportar o lixo marinho
até profundidades superiores a 4.500 metros”.

Por Lusa