"Aquilo que nos motiva a estudar esta temática é uma perspetiva social, que passa pelo estigma que as pessoas com problemas motores e neuromotores, como tetraplegia, paraplegia, amputações e esclerose múltipla, partilham em termos da sua sexualidade", disse à Lusa a investigadora Raquel Pereira, do laboratório SexLab, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).

Segundo indicou, este estudo, que estará a decorrer ao longo de um ano e necessita da contribuição voluntária de pessoas entre os 18 e os 50 anos, com e sem incapacidade física, permitirá perceber as principais diferenças relativamente ao funcionamento e satisfação sexual, de modo a poderem planear-se intervenções mais adequadas às circunstâncias.

Apesar de a sexualidade ser essencial na saúde, continuou a investigadora, no que diz respeito às pessoas com incapacidade, esta é "frequentemente ignorada ou negligenciada pelos profissionais de saúde e pela sociedade em geral".

Dados de um estudo preliminar, realizado por Raquel Pereira junto de pessoas com diferentes incapacidades físicas, demonstraram "a elevada importância da sexualidade e intimidade enquanto direitos fundamentais para uma vida independente".

"A baixa autoestima, preconceito e isolamento social são vistos pelos participantes como as principais barreiras à sua sexualidade, os quais identificam o acesso à informação especializada como uma das principais necessidades para lidar com o impacto da sua condição física na sexualidade", referiu.

Ao nível das barreiras contextuais, foi identificado o acesso limitado a determinadas atividades, tecnologias ou recursos financeiros para tratamentos especializados, que poderiam facilitar a vida sexual dessas pessoas e ajudá-las a resolver algumas questões da sua sexualidade.

No final do projeto corrente, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), os investigadores esperam ter resultados que contribuam para um maior conhecimento científico e para promover a saúde sexual de pessoas com incapacidade física junto de profissionais de saúde e da comunidade em geral, através de palestras, meios de comunicação, fóruns, atividades psicoeducativas e informativas.

Embora não seja o foco deste projeto, desde que começou este trabalho, a investigadora tem percebido que a realidade portuguesa quanto à intervenção e ao acesso a tratamentos nesta área "é muito inconsistente".

"Há serviços onde já existem, outros em que vai havendo uma atitude mais positiva, mas nos quais os técnicos não conseguem dar resposta, e outros em que os profissionais nem sequer são sensibilizados para estas situações", contou.

Segundo Raquel Pereira, em países mais a norte da Europa, como a Holanda e a Dinamarca, já existe assistência sexual a pessoas com incapacidade física, onde são desenvolvidas estratégias e técnicas que lhes facilitam a atividade sexual.

"A própria sociedade também já tem outra abertura, permitindo com que já tenham sido criados mecanismos, leis e profissões que dão outro tipo de respostas às necessidades sexuais dessas pessoas", disse.

De acordo com a investigadora, embora já existam alguns estudos nesta área em Portugal, "ainda é necessário fazer muito ao nível de investigação".

"Não existe um campo de estudos nesta área e a informação que já existe não chega efetivamente às pessoas", acrescentou.

O inquérito tem uma versão masculina e outra feminina e estão assegurados aos participantes as normas de anonimato e confidencialidade.