Em entrevista à Lusa a propósito da apresentação do relatório “O Estado da Saúde nas Prisões na Região Europeia da OMS” [Organização Mundial de Saúde], o epidemiologista lembrou que este cenário chegou a estar em cima da mesa há mais de 15 anos e apesar de não ter avançado, Henrique Barros continua a ver vantagens para a prevenção de infeções, como a hepatite C, que foi a patologia com maior incidência entre reclusos portugueses em 2020, ano a que se reportam os dados do relatório.

“Tem muitas vantagens e um problema: A assunção de que circula droga num espaço onde ela não devia circular legalmente. Mas aí temos de fazer um balanço, independentemente das opções ideológicas dos governos”, assinalou Henrique Barros, sublinhando que “muitos países” avançaram com essa opção de “distribuição de material de injeção limpo”.

Recordando o exemplo do governo liderado por Margaret Thatcher por ter dado passos nesse sentido nos anos 80 do século passado no Reino Unido, o presidente do ISPUP notou que a prisão “é um local de passagem” e que os problemas que se verificam no interior do sistema prisional podem também ter reflexos no exterior.

“O que foi compreendido facilmente foi que entre custos e benefícios que se obtinham, a prevenção das infeções era um benefício muito superior. Não podemos ser cegos e imaginar que o que se passa dentro das prisões fica dentro das prisões, porque não fica. Já que há esse problema grave de droga dentro das prisões, que não haja por cima um problema grave de saúde”, afirmou.

Questionado sobre se Portugal deve mesmo arrancar com um programa de distribuição de seringas no sistema prisional, Henrique Barros respondeu que “sim”, mas avisa para as mudanças dos tipos de substâncias em circulação na sociedade, pelo que uma iniciativa nesse sentido exige ainda “mais cuidados” do que no passado.

“Uma pessoa que não consegue parar a utilização das drogas tem uma dependência, que é uma forma inequívoca de doença. É preferível que aquilo que ela precisa lhe seja dado de forma controlada e que a retire do ciclo de miséria, violência e tráfico. As experiências que foram existindo mostram que essa é a boa solução, precisamos é de ter coragem e não nos deixarmos amedrontar por uma rede brutal de interesses ligada ao tráfico de droga”, concluiu.