A listeriose é uma doença zoonótica (transmitida dos animais ao Homem) causada pela bactéria Listeria monocytogenes. Esta bactéria está disseminada no meio ambiente existindo, sobretudo, nos solos e nas águas, estando naturalmente presente no aparelho digestivo de bovinos, ovinos, suínos, caprinos e aves, sendo estes animais a principal fonte de contaminação para o Homem.

A transmissão está habitualmente associada ao consumo de alimentos. Apesar de pouco frequente, esta infeção é uma doença grave, em grupos de risco nos quais se incluem, grávidas, recém-nascidos, idosos (acima de 65 anos), diabéticos insulinodependentes, dialisados e imunodeprimidos.

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Um surto recente de listeriose em Espanha já atingiu 204 pessoas, causou três mortes e provocou cinco abortos, segundo o último balanço das autoridades espanholas divulgado no final de agosto.  O surto de listeriose em Espanha começou em 15 de agosto e os produtos responsáveis pelo surto são “chincharrón” andaluz (gordura de porco frita), lombo de Jerez, lombo com pimentão, e lombo caseiro temperado com pimentão, da marca “La Mechá” tendo o Ministério da Saúde espanhol recomendado à população que não consuma os produtos de carne embalada desta marca.

Todos os produtos embalados identificados pelo Ministério da Saúde espanhol foram distribuídos na Andaluzia e em Madrid, exceto o lombo caseiro temperado com pimentão que foi comercializado apenas na Andaluzia.

"A listeriose apresenta taxas elevadas de mortalidade (15 a 30%) e de hospitalização (superior a 90%). A principal via de transmissão da bactéria é a alimentar, podendo ocorrer a transmissão por via direta da mulher grávida para o feto durante a gravidez ou no parto, e dos animais para o grupo de profissionais que com eles contactam, referem Margarida Saraiva e Cristina Belo Correia, responsáveis pelos Laboratórios de Microbiologia do Departamento de Alimentação e Nutrição (DAN) do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).

As mesmas fontes relembram, contudo, que "a maioria dos alimentos prontos para consumo, isto é, os que habitualmente são consumidos sem qualquer tratamento térmico podem estar contaminados com Listeria monocytogenes, mas o nível e a frequência da sua presença nos alimentos prontos para consumo é baixa". Os mais favoráveis à contaminação são aqueles que têm um prazo de vida útil prolongado, e nos quais a bactéria se pode desenvolver quando as regras de conservação (temperatura/tempo) ou de preparação descritas no rótulo não são cumpridas, incluindo:

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- Queijos fabricado com leite cru;
- Carnes e peixes crus e fumados;
- Saladas de frutas e/ou de produtos hortícolas;
- Patés e enchidos.

"A maioria dos adultos saudáveis não desenvolve doença após contacto, mas quando afeta grupos sensíveis pode manifestar-se através de sintomas semelhantes aos de uma gripe (febre, dores musculares, náuseas e diarreia) 1 a 2 dias após o consumo do alimento contaminado", acrescentam as microbiologistas do DAN. "Mais tarde, 2 a 4 semanas após o período de incubação, podem ocorrer sintomas mais graves como septicemia, meningite ou encefalite e o quadro clínico evoluir tornando-se mais severo. No caso particular das mulheres grávidas infetadas com Listeria monocytogenes, poderão evidenciar, apenas um síndrome gripal ou uma manifestação precoce da infeção que poderá provocar um aborto, um nado-morto, um parto prematuro ou uma infeção severa do recém-nascido", referem ainda.

O diagnóstico laboratorial da listeriose pode efetuar-se através de análises ao sangue, placenta, líquido cefalorraquidiano ou outras amostras biológicas. No tratamento da listeriose recorre-se à utilização de antibióticos e a tratamento sintomático de acordo com a apresentação da doença. Na grávida, um diagnóstico e tratamento atempados podem prevenir a infeção no feto ou no recém-nascido, segundo dados da Direção-geral da Saúde (DGS).

A prevenção é fundamental para evitar a infeção por listeriose, destacam as microbiologistas do DAN.

Recomendações

Não devem ser consumidos:

- Produtos fabricados com leite cru (ex. queijos principalmente de pasta mole);

- Carnes e peixes crus e "mal passados" (ex. sushi, carpaccio, rosbife);

- Enchidos e fumados crus (ex. presunto, salmão fumado e chouriço);

- Patés e produtos de charcutaria fatiados e refrigerados;

- Sandes pré-embaladas;

- Sumos de fruta e produtos hortícolas não pasteurizados, saladas de fruta (incluindo melão), saladas de vegetais;

- Rebentos crus.

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Regras básicas de higiene

- Regular o frigorífico para uma temperatura inferior ou igual a 5 oC, para os alimentos que devem ser conservados no frio;

- Conservar, verificar e cumprir a temperatura de conservação dos alimentos. Refrigerar ou congelar alimentos perecíveis e mantê-los à temperatura ambiente o mínimo de tempo possível;

- Lavar as mãos sempre que contactem com alimentos não cozinhados e antes de manusearem alimentos prontos a consumir;

- Lavar os vegetais e as frutas antes de os descascar;

- Lavar facas, tábuas, bancadas da cozinha e utensílios de preparação de alimentos, tendo especial atenção aos que contactaram com alimentos crus.

- Separar alimentos prontos a consumir de alimentos crus e de superfícies não higienizadas;

- Cozinhar bem os alimentos, especialmente carne e peixe a uma temperatura superior ou igual a 65 oC;

- Reaquecer os alimentos a uma temperatura superior ou igual a 70 oC.