Uma equipa internacional de investigadores coordenada por uma portuguesa identificou compostos antioxidantes com maior capacidade de prevenção de cancros da mama e da pele presentes em produtos da dieta mediterrânica, conseguindo determinar as dosagens benéficas e danosas.
Os compostos antioxidantes com efeito preventivo estudados estão presentes em produtos como o azeite, vinho tinto, frutos frescos (nomeadamente os vermelhos), legumes e cereais, entre outros, disse hoje à Lusa Maria Paula Marques, da Universidade de Coimbra (UC), que coordena a equipa de investigadores.
A ligação direta entre o consumo da dieta mediterrânica e uma menor incidência de vários tipos de cancro e de doenças cardiovasculares era já conhecida mas não os compostos com maior capacidade de eliminação de radicais livres nocivos (antioxidantes) e por que motivo têm essa função.
Uma das conclusões importantes a que os investigadores chegaram é que as dosagens desses antioxidantes consumidas são determinantes na luta contra os agentes capazes de provocar doenças, sendo, a partir de certa concentração, até nocivos.
Os compostos antioxidantes se forem consumidos em doses elevadas “podem ser pró-oxidantes, nocivos”, afirma a investigadora, alertando para a existência no mercado de vários “aditivos alimentares, de venda livre, e de produtos alimentares enriquecidos, que raramente contêm a indicação da dosagem daqueles compostos”.
“As cápsulas (de compostos aditivos) contêm dosagens mais elevadas (do que as existentes nos produtos da dieta mediterrânica) e se forem tomadas sem qualquer conselho médico podem ter consequências desastrosas para a saúde”, sustentou.
Ao conseguirem determinar as dosagens benéficas e as danosas, que podem diferir de composto para composto, os investigadores alertam para a “urgência em serem criadas normas reguladoras da utilização de aditivos alimentares, tal como acontece com para os medicamentos”.
“Se consumidos indiscriminadamente, estes e outros produtos de venda livre (incluindo os cosméticos ditos naturais) podem ter efeitos indesejáveis, ao não especificarem a dosagem de antioxidantes presentes”, insiste a coordenadora do estudo.
Os resultados da investigação, iniciada há oito anos, permitem fornecer informação muito específica, ao identificar os compostos que melhor combatem o stress oxidativo e contribuir para a compreensão, a nível molecular, desta atividade antioxidante, “auxiliando assim as indústrias alimentar e de cosmética a desenvolver produtos mais eficazes”.
Depois do estudo biológico a nível molecular, realizado em células cancerígenas humanas, os cientistas pretendem partir para testes com animais, etapa que só concretizarão “quando tiverem financiamento, que ainda não dispõem”, segundo Maria Paula Marques, da Unidade Química-Física Molecular da UC.
O estudo multidisciplinar da UC teve a colaboração de investigadores do Rutherford Appleton Laboratory (Oxford, Reino Unido), da Faculdade de Ciências do Porto e do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra.
23 de janeiro de 2012
@Lusa
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