O fígado é um importante órgão do sistema digestivo no nosso organismo. Tem como principais funções a participação na digestão, produção e armazenamento de substâncias essenciais ao organismo e desintoxicação.
A hepatite ocorre quando existe uma inflamação do fígado. Esta patologia é frequentemente causada por infeções virais, mas podem existir outras causas como a hepatite autoimune ou a tóxica, secundária a medicamentos, drogas, toxinas ou álcool. No caso da hepatite autoimune, acontece quando existe uma falha no sistema imunitário e o organismo produz erradamente anticorpos contra o tecido hepático.
Existem 5 tipos de hepatites virais: hepatites A, B, C, D e E, cada uma delas provocada por vírus diferentes. A hepatite A é sempre uma doença aguda a curto prazo, enquanto as hepatites B, C e D têm maior probabilidade de se tornarem contínuas e crónicas. A hepatite E é geralmente aguda, e pode ser particularmente perigosa em mulheres grávidas.
Hepatite A
A hepatite A é causada pelo vírus da hepatite A (VHA). Este tipo de vírus é frequentemente transmitido pelo consumo de alimentos ou água contaminados por fezes de uma pessoa infetada por hepatite A.
É comum em Portugal e, de uma forma geral, surge na infância ou no jovem adulto. A hepatite A é autolimitada e não evolui para doença crónica. A vacina está disponível e é recomendada para pessoas que viajam para países onde a doença é comum.
Hepatite B
A hepatite B é transferida através do contacto com fluidos corporais infetados como o sangue, secreções vaginais ou esperma, contendo o vírus da hepatite B (VHB). O uso de drogas injetáveis, a relação sexual desprotegida com um parceiro infetado ou a partilha de lâminas ou objetos cortantes aumentam o risco de contrair hepatite B. É talvez o tipo mais perigoso e grave, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. Estima-se que em Portugal esta doença afete cerca de 1,0 a 1,5% da população. Apesar de grave, a hepatite B pode ser prevenida pela vacinação, que tem uma eficácia de 95%. É administrada em 3 doses e faz parte do Plano Nacional de Vacinação, sendo por isso gratuita.
Hepatite C
A hepatite C é provocada pelo vírus da hepatite C (HCV). É transmitida através do contacto direto com fluidos corporais infetados, geralmente através do uso de drogas injetáveis e contato sexual. Cerca de 70 a 80% dos doentes infetados evoluem para doença crónica; em 20% deles a infeção pode levar a cirrose e cancro de fígado.
Hepatite D
Também chamada de hepatite delta, a hepatite D é uma doença hepática grave causada pelo vírus da hepatite D (VHD). O VHD é contraído através do contacto direto com sangue infetado. É uma forma rara de hepatite que ocorre apenas em conjunto com a infeção por hepatite B, uma vez que o vírus da hepatite D não se consegue multiplicar sem a presença do vírus da hepatite B. Embora não exista vacina para este tipo de doença, a vacina para a hepatite B também previne a infeção pelo vírus da hepatite D.
Hepatite E
A hepatite E é uma doença transmitida pela água e causada pelo vírus da hepatite E (VHE). Transmite-se pelo consumo de água ou alimentos contaminados e geralmente não evolui para a cronicidade. Pode ser particularmente grave se for contraída por mulheres grávidas.
Hepatites não infecciosas
Álcool e outros produtos tóxicos: O consumo excessivo de álcool pode causar danos irreversíveis no fígado, resultando em hepatite alcoólica, por lesão direta das células hepáticas. Com o tempo podem surgir danos permanentes, levando a insuficiência hepática e cirrose. A cirrose, que surge em 10-20% dos casos, é caraterizada pela substituição do tecido hepático normal em cicatrizes. Como resultado, a estrutura do fígado fica alterada, não sendo capaz de realizar as suas funções habituais. O único tratamento eficaz é parar de consumo álcool. Diferentes toxinas são: medicamentos, sobretudo se em doses excessivas, drogas, venenos ou plantas.
Resposta do sistema imune: Em alguns casos, o sistema imunitário produz anticorpos que atacam as células do fígado. Esta inflamação contínua pode variar de leve a moderada, tendo na maioria das vezes repercussão na função hepática. É três vezes mais comum em mulheres do que em homens.
Sinais e sintomas
Em muitos casos a hepatite pode não ter manifestações sintomáticas. Os sintomas podem não ocorrer até que os danos afetem a função hepática.
Quando ocorrem, sobretudo nas formas agudas, os sintomas incluem: fadiga, perda de apetite, perda de peso, peles e olhos amarelados (icterícia), urina escura, fezes claras e dores abdominais.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da hepatite é feito em conjugação com a história clínica, exame objetivo, resultados de exames laboratoriais e ecografia abdominal. Em alguns casos pode ainda ser necessária uma biopsia hepática.
Prevenção e tratamento
Como na maioria das doenças, a melhor aposta é a prevenção:
- Ter uma boa higiene
- Ter atenção e cuidado com os alimentos crus e a ingestão de água não potável, sobretudo nos países em desenvolvimento
- Não partilhar objetos cortantes
-Ter relações sexuais seguras através da utilização de preservativo
- Vacinação nos casos em que existe
- Não consumir bebidas alcoólicas em excesso, assim como drogas, plantas desconhecidas e medicamentos sem prescrição médica e fora das doses recomendadas.
Quando a prevenção, não é possível, existem tratamentos que variam consoante o tipo de hepatite. Nos casos de doença aguda, o tratamento passa por privação do agente em causa, repouso e dieta. Nos casos de doença crónica, o tratamento é feito com recurso a medicamentos específicos que impedem a multiplicação do vírus.
Um artigo da médica Ana Miranda, Internista nos Serviços Clínicos da Médis.
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