O Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, começa esta quarta-feira um sistema de triagem para detetar possíveis casos de COVID-19, e hoje mesmo começou a fazer idênticos exames em lares. A chamada "triagem smart" vai funcionar junto do hospital, onde foram montadas tendas para assistir doentes se for necessário (que são depois encaminhados para o Serviço Nacional de Saúde – SNS).

O equipamento permite avaliar 240 pessoas por dia, mas não é um "teste rápido" à COVID-19, é antes uma leitura dos glóbulos brancos, advertiu o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), Francisco George.

Gonçalo Órfão, coordenador nacional de emergência da CVP, explicou à Lusa que o sistema faz uma análise do risco e permite despistar a existência de uma infeção e que é idêntico ao usado numa unidade móvel que a partir de hoje vai fazer testes em lares.

"Se aqui detetamos um infeção e caso se trate de um doente de risco encaminhamos para o hospital", comentou Joana Sá, enfermeira da CVP, explicando que o complexo de tendas montadas no local permite internamentos, seis na sala de observação e dois na emergência, além de outros tantos postos que podem ser montados caso venha a ser necessário.

Cruz Vermelha
Cruz Vermelha A triagem avalia diversos parâmetros de análises e de inquéritos clínicos sendo definida a prioridade de tratamento do doente com base no risco de gravidade do seu estado créditos: ANDRÉ KOSTERS / LUSA

Numa fase inicial a “triagem inteligente” (onde chegam doentes encaminhados pelos médicos) funciona 12 horas por dia, mas pode chegar às 24 horas. Todo o processo demora cerca de 10 minutos e é feito através de um equipamento desenvolvido pela empresa portuguesa Biosurfit, tendo o apoio do Instituto de Medicina Molecular.

Funciona com a instalação de uma aplicação, o preenchimento de dados pessoais e a resposta a um questionário de meia dúzia de perguntas.

Sem precisar de sair do carro (ou ambulância) ao doente é-lhe retirado sangue e recolhe-se uma amostra de secreções (zaragatoa). Em menos de 10 minutos recebe o resultado do risco de covid-19 são-lhe dadas indicações, que podem ir de vigilância domiciliária ao imediato internamento.

Processo inovador tem o apoio da Altice Portugal

A Altice Portugal associou-se a esta causa e disponibilizou apoio tecnológico para este sistema de triagem smart, através de dispositivos móveis (6 tablets Samsung) e implementação de rede de internet 4G na Unidade de campanha hospitalar, com tráfego ilimitado.

Para Alexandre Fonseca, presidente executivo da Altice Portugal, "é com um grande sentido de responsabilidade e dever para com o país que a Altice Portugal se junta uma vez mais à Cruz Vermelha Portuguesa, um parceiro com quem temos levado a cabo inúmeras ações solidárias de sucesso".

ANDRÉ KOSTERS / LUSA
ANDRÉ KOSTERS / LUSA Novo centro de triagem smart no Hospital Cruz Vermelha para suspeitos com COVID-19 que identifica o risco de complicações clínicas de uma forma rápida e precoce créditos: ANDRÉ KOSTERS / LUSA

"A Altice Portugal volta assim a colocar a sua tecnologia ao serviço da saúde e dos portugueses, assegurando os recursos necessários para que a Cruz Vermelha Portuguesa possa desenvolver o seu trabalho em prol do bem comum, da saúde, do combate ao isolamento e solidão dos internados em regime de confinamento e das famílias portuguesas que infelizmente vivem os nefastos efeitos desta crise pandémica", explica em nota de imprensa.

Segundo Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, "esta é uma parceria de grande importância para a garantia da resposta da Cruz Vermelha Portuguesa no quadro do controlo da Pandemia".

"O acesso à internet permite o funcionamento do Sistema de triagem smart com resultados diretos nos aparelhos eletrónicos cedidos. A experiência de sucesso na parceria com a Altice Portugal, em iniciativas anteriores, permite-nos estar confiantes no impacto desta campanha. Contamos com a generosidade de todos para esta causa", acrescenta.

Ministro visitou hospital de campanha da Cruz Vermelha

O modelo de triagem foi visitado na terça-feira pelos ministros da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho.

Manuel Heitor salientou no final que o sistema mostra a importância e os resultados a que se pode chegar quando a ciência se mobiliza, e salientou que a triagem inteligente vai ser aplicada em outros locais do país. “Além dos esforços para combater a pandemia estimula as empresas de base tecnológica”, salientou o ministro.

Ana Mendes Godinho também salientou a importância da realização de testes nos lares, de forma preventiva, para identificar possíveis casos positivos e poder garantir respostas de isolamento.

A Biosurfit é uma empresa portuguesa de diagnósticos que desenvolveu uma tecnologia capaz de fazer as principais modalidades de análise ao sangue em apenas cinco minutos e sem laboratórios. A análise não diz se o paciente está infetado, mas dá indicadores sobre possível infeção com o coronavírus SARS-CoV-2. A recolha para o teste também pode ser feita e nesse caso o resultado está disponível oito horas depois.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da COVID-19, já infetou mais de 800 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 40 mil.

Em Portugal, segundo o balanço feito na terça-feira pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 160 mortes, mais 20 do que na véspera (+14,3%), e 7.443 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 1.035 em relação a segunda-feira (+16,1%).

Com Lusa