“Impedir a circulação das pessoas é algo difícil e ter a polícia parada à porta de cada casa a dizer ‘o senhor não sai, o senhor pode sair, o senhor fica em casa ou o senhor pode ir às compras’ é algo, diria, desumano, ainda pior do que ter uma cerca sanitária, que apesar de tudo acaba por prejudicar outras pessoas que não estariam infetadas”, afirmou Gustavo Tato Borges, que lidera a comissão, numa conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo.
O Governo Regional dos Açores anunciou hoje que se vai manter a cerca sanitária existente em parte da vila de Rabo de Peixe, no concelho da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, já sujeita a esta medida de contenção da covid-19 desde 15 de janeiro.
Gustavo Tato Borges frisou, no entanto, que “não é possível” ter um polícia à porta de cada pessoa, alegando que isso seria “uma medida bastante agressiva”.
O médico especialista em saúde pública disse que muitos dos novos casos são identificados em famílias, que “acabam por morar muito perto”.
“Não está espalhado de um forma global dentro da cerca, o que significa que, se as famílias se resguardarem um pouco mais, podemos ter de uma forma rápida uma evolução muito positiva e uma possibilidade de redução da cerca, mas precisamos que as pessoas façam um esforço adicional para que se contenham nos seus contactos habituais e para que possamos ter esta situação em controlo”, apontou.
A manutenção da cerca sanitária em parte da vila tem gerado descontentamento na população.
O secretário regional da Saúde e Desporto, Clélio Meneses, disse ter “consciência da complexidade do problema e do mal-estar que ele cria”, mas insistiu em que o levantamento depende da situação epidemiológica.
“O que vai determinar o fim ou a continuidade da cerca não é uma deliberação política ou uma deliberação individual. É apenas e só, objetivamente, a evolução da pandemia. Se os casos baixarem, se deixar de haver novos casos, como infelizmente continua a existir, e se ficar demonstrado que a situação está controlada ao ponto de não ser necessária a cerca, obviamente que será de imediato levantada”, afirmou.
Clélio Meneses apelou a um esforço adicional da população, alegando que um levantamento das medidas de contenção nesta fase poderia provocar um aumento de casos.
“Em dezembro, quando se levantou a primeira cerca de Rabo de Peixe, para testagem, aconteceu o que aconteceu. Juntamente com outros fatores, que podem ter tido influência, chegámos a janeiro com quase 1.000 casos”, frisou.
O governante lembrou ainda que há equipas multidisciplinares no terreno, que integram psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos, para tentar “apoiar a população”.
“Temos tentado criar mecanismos que atenuem. Temos a certeza absoluta de que não resolve o problema, que as pessoas não ficam satisfeitas com isto. É evidente, é humano, mas é aquilo que o Governo pode fazer”, avançou.
Os Açores têm atualmente 79 casos positivos ativos de infeção pelo novo coronavírus que provoca a doença covid-19, dos quais 67 em São Miguel, nove no Pico e três na Terceira.
Dos casos ativos, 53 estão na vila de Rabo de Peixe, onde foram diagnosticados 48 novos casos desde 26 de fevereiro.
No total, já foram registados na região 3.907 casos positivos, tendo ocorrido 3.693 recuperação, 29 óbitos. Saíram da região 67 pessoas e 39 apresentaram comprovativo de anterior infeção.
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