A direção do agrupamento, no concelho da Amadora (distrito de Lisboa), anunciou no domingo passado que as duas escolas iriam encerrar a partir de segunda-feira.
Três dias depois, o comércio começa a ressentir-se, com os proprietários dos estabelecimentos da zona a pensar em fechar também para férias.
“Se fechar, não tenho gastos, por isso não faz mal não ter clientes, não temos prejuízos”, explicou Nelson, proprietário de um quiosque junto à Escola Básica Roque Gameiro. Normalmente fecha de férias durante o período escolar e, se esta quarta-feira o Governo optar por antecipar a interrupção letiva da Páscoa, irá fechar também.
“É a escola que traz movimento à rua”, referiu Nelson, que gere o quiosque de comida há cinco anos, contando não haver carros na rua: “Parece as férias de verão”.
Segundo o proprietário, “algumas pessoas estão mais preocupadas - muitas perguntam se foi esta a escola onde um aluno deu positivo pelo coronavírus - , mas não se vê ninguém com máscara na rua”.
Também o café onde Helena trabalha, mesmo em frente à Roque Gameiro, se ressentiu com os almoços. A empregada referiu que a clientela habitual, alguns dos quais mais idosos, continua a frequentar o estabelecimento “de manhã e à tarde e depois do almoço, para beber o seu cafezinho”, ou seja, “estão tranquilas, sem grande alarme”.
“A esta hora [cerca das 12:30] é que estaria mais gente. Os meninos vinham almoçar e os professores e as auxiliares tomar a sua bica”, disse à Lusa.
Dulce Martins e Francisco Torrão são clientes habituais e até agora não mudaram de hábitos.
“Faço a vida normalíssima. O que terá de ser será. Trabalho com o público, não vou fugir por causa disso. Tenho mais cuidado, de resto ando na rua, vou aos sítios a que tenho de ir, faço a minha vida”, explicou Dulce Martins.
Também Francisco Torrão, que mora na Reboleira, junto à escola, frequenta todos os sítios de que precisa: “Vamos ver a evolução disto estou preocupado”, disse.
Carlos, que gere uma pastelaria muito frequentada pelos alunos e professores, tanto da Secundária da Amadora como da Roque Gameiro, contou à Lusa que logo que se começou a falar no coronavírus houve um decréscimo dos clientes.
“Depois, com os dois casos aqui nas escolas, ficou bastante pior. Parece que estamos já nas férias escolares. Os pais não aparecem, é um prejuízo bastante grande para o comércio, com os professores também… O movimento é quase metade do que era”, contou Carlos.
O gerente da pastelaria reconheceu que só tem aparecido “um ou outro miúdo” no local, gracejando que “estão mesmo a cumprir o período de quarentena que lhes foi aplicado”. Quanto à clientela mais habitual que não faz parte comunidade escolar, “alguns optaram por ficar mais em casa”.
No Parque Central da Amadora, onde os ‘menos jovens’ se reúnem habitualmente ao redor das mesas a jogar às cartas continuam a jogatana e não se mudaram os hábitos diários.
Alguns estão mais preocupados, sabem que pertencem a grupos de risco, mas nem por isso deixam de fazer a sua vida normal.
“Estou preocupado, sim, mas até ao momento não mudei nada. Só lavo mais vezes as mãos”, disse Agostinho Gonçalves, que fazia de ‘árbitro’ ao jogo de dois companheiros.
Também Constantino Alves, na mesa ao lado, continua a vir todos os dias para o jardim.
“De certo modo, estou mais preocupado, com os rumores que correm, mas tenho feito a minha vida normal, venho de manhã e à tarde para o jardim jogar”, disse Constantino Alves, que depois de passar o dia no jardim regressava a casa para ir passear o cão.
Tirando a área junto a estas escolas, aparentemente, a vida nas principais artérias da Amadora, desde a Reboleira à Venteira e à Falagueira, continua a decorrer normalmente. A única máscara que a reportagem da Lusa encontrou foi no focinho de um cão e mesmo assim era de loiça.
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