Apesar de serem “coisas ainda muito embrionárias”, Graça Freitas afirmou que “Portugal não será diferente de outros países e vai ter protocolos de acompanhamento destas situações”, não só para perceber “o que é que se passa” com os doentes, “como também para contribuir para a ciência e para a evidência a nível mundial”.

“Estes protocolos têm de ser muito bem pensados e têm de ser pensados no acompanhamento ao longo do tempo”, disse a diretora-geral da Saúde na conferência de imprensa diária sobre a evolução da pandemia de covid-19 em Portugal.

A diretora-geral da Saúde explicou que estes doentes podem ter dois tipos de seguimento. Um na fase do pós-alta, em que serão acompanhados pelos médicos que os seguiram no hospital, e o outro no regresso à comunidade em que serão acompanhados pelos médicos de Medicina Geral e Familiar, dependendo do nível de sequelas com que ficaram.

Segundo Graça Freitas, há estudos realizados noutros países que indicam que há doentes que ficaram com sequelas da covid-19, sobretudo os que tiveram formas mais graves da doença e necessitaram de cuidados intensivos.

“Sequelas a curto prazo já se podem verificar algumas, mas em Portugal terá se ser feito um ou vários estudos, em vários hospitais, pelos médicos com base nos relatórios clínicos e acompanhamento destes doentes” para verificar estas situações.

A diretora-geral da Saúde explicou que “são situações que só se verificam depois de resolvida a situação aguda em que os doentes continuam em acompanhamento pelos seus médicos assistentes”.

De acordo com Graça Freitas, só é possível, a partir de unidades hospitalares e de uma ou várias juntas, analisar os casos que tiveram determinado tipo de gravidade e perceber se os órgãos afetados têm outro tipo de lesões e se podem ser permanentes ou não.

O diretor do Serviço de Infecciologia do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, António Sarmento, já admitiu avançar com um estudo científico sobre as sequelas que a covid-19 deixou nos doentes recuperados, em colaboração com os centros de saúde.

“Teria interesse em termos investigacionais (…) quando as coisas acalmarem, chamarmos ou convocarmos alguns dos doentes, para fazermos um estudo científico e interesse da comunidade, e realmente com meios que o médico não tem no seu centro de saúde, já para avaliar a percentagem de sequelas que existiu e quais foram [essas sequelas)”, afirmou o infeciologista em declarações recentes à agência Lusa.

O médico referiu, todavia, que não pode assegurar que todos os doentes vão ser seguidos no Hospital de São João sejam chamados, até porque a maioria que teve a doença está “bem”.

O estudo dos doentes de “forma sistemática” e com “metodologia científica” seria feito “em “colaboração com os médicos de família e com o hospital”, disse especialista, explicando que as sequelas das doenças geralmente manifestam-se ao fim de semanas ou mesmo meses, explica António Sarmento.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 282 mil mortos e infetou mais de 4,1 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

Mais de 1,3 milhões de doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 1.144 pessoas das 27.679 confirmadas como infetadas, e há 2.549 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, vários países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.