“No ano passado propusemo-nos a acabar com os doentes com mais de um ano de espera para consulta. Não nos orgulhávamos disso. Conseguimos esse objetivo (…). Definimos uma nova meta, ainda mais agressiva: ninguém ficaria à espera por mais de seis meses. Janeiro e fevereiro foram espetaculares. Estávamos com níveis de atividade recorde em toda a história do hospital. Depois foi uma desgraça. Tudo se complicou muito. [A meta dos seis meses] deixou de ser exequível”, disse o presidente do conselho de administração do CHVNG/E, em entrevista à agência Lusa.
A “desgraça” a que Rui Guimarães se refere dá pelo nome de pandemia de covid-19, uma realidade à qual já nenhum hospital ou setor de atividade do país ou do mundo está alheio e que levou o CHVNG/E a redesenhar metas e a fazer apostas novas.
“Vamos tentar que no final do ano não haja ninguém há mais de um ano à espera de uma cirurgia e uma consulta, em vez dos seis meses que gostaríamos, passou à meta dos nove. Os próximos meses serão decisivos porque é preciso equilibrar tudo com a resposta à covid-19”, disse Rui Guimarães.
O médico reconhece que “o desafio é enorme” porque a fase de retoma conjugada com a permanência de um vírus que circula trouxe aos hospitais a necessidade de fazer consultas, mas não permitir que as pessoas se acumulem nas salas de espera.
“E o inverno está à porta e com chuva. Os utentes tardam em perceber a necessidade de chegar à consulta das 10:00 à hora certa e não às 08:00. Isso continua a acontecer. Ou porque o filho deu boleia quando ia para o trabalho ou porque o médico até é capaz de atender rápido e mais vale estar na sala de espera (…). Esta dinâmica é difícil de contrariar, mas estamos a fazer esforços”, referiu.
A este propósito, Rui Guimarães descreveu o “triangulo perigoso” do CHVNG/E: “Desde logo a falta de orçamento, transversal a tantos hospitais. E a juntar à acessibilidade, que tem vindo a melhorar, temos a questão infraestrutural. As chamadas ‘obras de Santa Engrácia’, obras sucessivamente anunciadas e adiadas que nos retiram credibilidade junto da população”, lamentou.
No que diz respeito a listas de espera para consultas, Rui Guimarães aponta dermatologia, ortopedia e oftalmologia como os “três Reis Magos que mais se atrasam todos os anos para o Natal”, mas conta que “o compromisso das várias equipas – e não são só as clínicas, mas quem faz marcações também – já começa a dar frutos”.
“[O último] agosto, nas primeiras consultas, foi o melhor mês de agosto dos últimos 10 anos. Realizámos 11.500 primeiras consultas. Já cirurgias de ambulatório foram 1.020. Na cirurgia convencional, o aumento foi de 13.3% em relação a agosto de 2019”, enumerou.
Quanto à demora média de internamento, um indicador que, além de associado à disponibilidade de camas, está atualmente cada vez mais associado à exposição ao risco, esse era “sempre superior a oito dias” nos últimos 10 anos.
“Neste agosto foi de 6,86 dias”, contou o responsável, destacando aqui o papel da hospitalização domiciliária, uma unidade criada no CHVNG/E em 2018.
“Estes números são inspiradores porque agosto, mês em que todos estávamos esgotadíssimos e associado tradicionalmente ao gozo de férias, sucederam-se índices de retoma muito bons. Não nego que há programas de incentivo e pagamentos adicionais, mas muitas vezes o dinheiro já não chega, ou seja, isto significa que as equipas se disponibilizaram ao sábado e domingo para poder recuperar as listas de espera”, frisou.
Ainda sobre metas e medidas recentes levadas a cabo num ano que pela pandemia se tem revelado diferente a todos os níveis, Rui Guimarães descreveu à Lusa que o CHVNG/E está também focado no apelo à vacinação contra a gripe sazonal e que o hospital regista agora “mais do dobro de inscrições [dos seus profissionais] para a vacina do que no ano passado”.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão e quarenta e cinco mil mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 2.032 em Portugal.
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