“Analisamos todos os documentos e relatórios [no Ministério da Saúde]. A análise pressupõe a leitura. Li todos os documentos e relatórios, claro que sim. Neste momento estamos a analisar. Há muitas conclusões convergentes, outras menos convergentes, mas o que interessa é que da análise desses relatórios saia um caminho para proteção destas faixas mais vulneráveis”, disse António Lacerda Sales na conferência de imprensa sobre a situação epidemiológica em Portugal.
Já a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, referiu que ler os relatórios que lhe chegam faz parte das suas “obrigações”, tal como “retirar deles ensinamentos e fazer sobre eles comentários e acrescentos, porque nenhum é completamente exaustivo”, precisando “que se olhem para outros ângulos”.
“Como disse o secretário de Estado da Saúde, temos a obrigação de ler os relatórios que nos chegam. Isso faz parte das nossas obrigações: ler os relatórios, retirar deles os ensinamentos mas também fazer sobre eles comentários e acrescentos porque nenhum relatório é completamente exaustivo e precisa, às vezes, que se olhem para outros ângulos”, afirmou a responsável da Direção-Geral de Saúde (DGS).
As perguntas surgiram na sequência das declarações ao Expresso, no sábado, da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, nas quais referiu que não leu o relatório da Ordem dos Médicos, o que suscitou reações políticas.
O Ministério Público (MP) instaurou um inquérito sobre o surto de covid-19 num lar em Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora, e uma auditoria da Ordem dos Médicos aponta falhas ao funcionamento do lar.
Questionado hoje sobre o relatório do lar de Reguengos de Monsaraz, Lacerda Sales começou por vincar que “relativamente ao relatório e aos documentos, o Ministério da Saúde analisa todos os documentos e todos os relatórios que lhe chegam”.
“Obviamente que não vamos comentar esses documentos e relatórios, sendo matéria que está sob investigação do MP”, observou.
Lacerda Sales acabaria por reconhecer que uma análise pressupõe uma leitura e que leu “todos os documentos e relatórios”.
O governante disse ainda que os “relatórios e documentos são sempre bem vindos, não só para apurar responsabilidades, mas para ajudar o Governo a melhorar e proteger estas faixas mais vulneráveis, neste caso os idosos”.
O lar de Reguengos de Monsaraz onde um surto de covid-19 provocou a morte de 18 pessoas não cumpria as orientações da Direção-Geral da Saúde, conclui uma auditoria da Ordem dos Médicos, que aponta responsabilidades à administração.
O relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos para avaliar as circunstâncias clínicas do surto de covid-19 diz que não era possível cumprir “o isolamento diferenciado para os infetados ou sequer o distanciamento social para os casos suspeitos”.
A comissão conclui que “os recursos humanos foram insuficientes para a prestação de cuidados adequados no lar, mesmo antes da crise de covid-19, uma situação que se agravou com os testes positivos entre os funcionários, que os impediram de trabalhar
Na entrevista ao Expresso, a ministra da Segurança Social admitiu que faltam funcionários nos lares, lembrando que há um programa para colmatar essa falha, mas considerou que a dimensão dos surtos de covid-19 “não é demasiado grande em termos de proporção”.
Sobre o relatório que a Ordem dos Médicos lhe enviou e no qual são denunciadas situações de abandono terapêutico dos utentes do lar, a ministra defendeu que essa é “uma valência da Saúde”, escusando-se a comentar.
Portugal regista hoje mais uma morte e mais 132 casos confirmados de covid-19 em relação a domingo, segundo o boletim epidemiológico mais recente da DGS.
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