No último ano, o Centro Hospitalar do Porto registou uma adesão de 71,6% dos seus profissionais à correta higienização das mãos, um aumento de 2,9% em relação ao ano anterior e um valor superior à média nacional de 70,3%, indica o relatório final de 2014 a que hoje a Lusa teve acesso.
Criada em outubro 2008, a Campanha de Higiene das Mãos tem vindo a ser implementada pela Comissão de Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (CCIRA) do Centro Hospitalar do Porto (CHP) com o objetivo de promover esta prática de forma padronizada e sistemática, contribuindo para a diminuição das infeções associadas aos cuidados de saúde e o controlo das resistências aos antimicrobianos.
A campanha promove os cinco momentos para a higiene das mãos definidos pela Organização Mundial de Saúde – antes do contacto com o doente, antes de procedimentos asséticos, após a exposição a fluidos orgânicos, após o contacto com o doente, após o contacto com o doente, após o contacto com o ambiente envolvente do doente – sendo os enfermeiros aqueles profissionais que no CHP mais se destacaram nesta prática.
“A adesão à higienização das mãos nos cincos momentos e a higienização do ambiente são as pedras fulcrais numa prevenção contra a infeção hospitalar”, defende Carlos Vasconcelos, responsável da CCIRA do Centro Hospitalar do Porto.
O especialista lamenta contudo a falta de formação dos profissionais para estes cuidados, a começar pelos próprios alunos de medicina que são alertados para esta necessidade só no terceiro ano da licenciatura, para além de muitos profissionais das diversas áreas que chegam às unidades de saúde sem saberem as normas da OMS.
“A falta de formação é uma questão de geração. O que pedimos é que os novos não se contaminem com o mau exemplo (…) e não sigam os exemplos dos mais velhos, que não aprenderam a nova metodologia da higienização das mãos”, assinalou o clínico que defende mais “consciencialização e interiorização” das medidas e o seu ensino “não em sala clássica mas com exemplos práticos”.
Apesar de as diretivas da OMS ainda não serem aplicadas a 100%, o responsável garante que o “risco de ter uma infeção hospitalar é muito pequeno” entre pessoas saudáveis que convivem “em equilíbrio” com as bactérias no ambiente e com as que fazem parte do seu microbioma.
“Temos que saber viver com as bactérias, com os micro-organismos em geral, é uma verdade global”, lembra Carlos Vasconcelos segundo o qual o risco existe sim “dentro do hospital” porque é aí que se junta “um grupo de pessoas muito suscetíveis”.
As pessoas em causa “são idosos, doentes, com várias comorbilidades”, logo suscetíveis perante bactérias que “começam a ganhar resistências” perante “a utilização exagerada e com frequência inadequada de antibióticos”.
“E além do mais transmitem informação umas às outras. É a vida, a vida passa-se aos diversos cosmos. E o que esses micro-organismos querem? Sobreviver e reproduzir-se. Tendo em atenção este fator sabemos que será impossível levar a taxa de infeção hospitalar a zero, mas é uma obrigação lutar no dia-a-dia para a manter a níveis o mais reduzidos possíveis”, explicou.
Tendo em conta essa realidade, o “grande problema” para Carlos Vasconcelos é a “transmissão cruzada” de bactérias entre doentes, através das mãos dos profissionais, e o desenvolvimento de surtos de infeção hospitalar.
E como se impede essa transmissão de micro-organismos entre os pacientes? “Pela higienização das mãos e das superfícies”, responde o especialista para quem “não vai tardar o dia em que serão os doentes ou os familiares dos doentes a ajudar os profissionais a fazer a higienização adequada das mãos”.
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