Cientistas do King’s College de Londres descobriram que o Tideglusib, um fármaco utilizado no tratamento da Doença de Alzheimer, é capaz de fazer crescer os dentes, reparando as cavidades provocadas pelas cáries. Os investigadores afirmam que a substância, aplicada na cavidade do dente com recurso a uma esponja de colágenio biodegradável, tem um efeito reparador "completo, eficaz e natural".
Segundo a investigação publicada na revista Nature, e que envolveu testes em ratos de laboratório, o medicamento em causa consegue estimular as células estaminais da polpa dentária, regenerando a dentina, um tecido do dente que está coberto pelo esmalte. O estudo adianta que a nova técnica pode vir a substituir os compósitos ou mesmo a tradicional amálgama usada na reparação dos dentes. "A simplicidade da nossa abordagem torna-a ideal para um produto dentário clínico a ser usado no tratamento de grandes cáries, proporcionando uma proteção da polpa e reestruturando a dentina", referiu Paul Sharpe, principal autor do estudo.
Por outro lado, resultados de um ensaio clínico levado a cabo por universidades da China e Estados Unidos revelam que a implantação autóloga de células estaminais mesenquimais (MSCs, do inglês Mesenchymal Stem Cells) é uma abordagem segura no tratamento de doentes com polpa dentária necrótica após trauma, permitindo a regeneração progressiva do tecido da polpa dentária.
No ensaio que pretendeu avaliar a tolerância e segurança da implantação de células mesenquimais, de origem dentária, foram incluídos 40 doentes com idades compreendidas entre 7 e 12 anos, que apresentavam o tecido da polpa dentária em necrose após trauma. Aos dez jovens do grupo controlo foi efetuado o procedimento standard para este tipo de condição e aos restantes foram implantadas MSCs de origem dentária do próprio doente.
Os dois grupos foram acompanhados durante 24 meses, não tendo sido observados sinais de rejeição ou inflamação após os procedimentos efetuados. Ao fim de 6, 12 e 24 meses verificou-se a regeneração progressiva do tecido da polpa dentária, com evidente formação das estruturas características deste tecido nos doentes tratados com MSCs. Tais resultados não se verificaram nos doentes intervencionados com o procedimento habitual.
"Pela capacidade regenerativa demonstrada e tendo sido observado que os resultados se mantiveram após 24 meses, esta abordagem poderá ser uma opção de tratamento para lesões dentárias após trauma, e vir a constituir uma alternativa aos procedimentos usados habitualmente. Contudo, serão necessários mais estudos para aferir a total segurança e eficácia desta abordagem terapêutica", afirma Carla Cardoso, investigadora do departamento de Investigação e Desenvolvimento da Crioestaminal.
As MSCs são células multipotentes que se podem diferenciar em vários tipos celulares, como células neuronais, entre outros. As MSCs podem ser isoladas de várias fontes incluindo os dentes, a médula óssea e o cordão umbilical. Estas células exibem uma elevada capacidade proliferativa, aliada a funções imunomodeladoras e de regeneração de tecidos.
Os dentes são compostos por três estruturas principais: o esmalte, a dentina e a polpa. O esmalte e a dentina são tecidos mineralizados, com funções mecânicas e protetoras. A polpa ocupa a parte central do dente e é constituída por tecido conjuntivo não mineralizado, ricamente inervado e vascularizado. Esta estrutura desempenha funções nutritivas, defensivas, sensitivas e reguladoras, o que a torna essencial para a vitalidade dos dentes. Após traumas violentos pode ocorrer a necrose da polpa dentária.
Esta condição caracteriza se por um conjunto de alterações que se traduzem na falência de todo o sistema vascular e nervoso da polpa dentária, sendo a idade um fator de risco. Devido à imaturidade no desenvolvimento da raiz dentária, os jovens apresentam maior probabilidade de necrose após trauma.
Quando tal acontece, recorre-se atualmente a procedimentos cirúrgicos que tentam minimizar os danos, no entanto estes são incapazes de promover a regeneração do tecido necrótico da polpa.
Comentários