
SAPO Lifestyle: Como foi o impacto do diagnóstico?
Catarina Figueiredo: Sobretudo por a minha "amiga P." gostar de se exibir e estar bastante exposta e, consequentemente, atrair muitos olhares indiscretos, pela minha história de vida, por ter uma irmã totalmente dependente – o bebé lá de casa – e por ter perdido a minha mãe há uns anos, aprendi desde cedo que há coisas mais complicadas, mais difíceis de aceitar e com as quais é mais duro conviver. A palavra-chave nesta relação é "resiliência", capacidade que adquiri para me adaptar a esta situação e ser flexível.
SAPO Lifestyle: Que tipo de constrangimentos a doença provoca?
Catarina Figueiredo: A exposição das manchas e a descamação da pele associada à psoríase, ou como eu costumo dizer, a neve que insiste em cair em Catarinalândia, mesmo quando está sol, gera olhares indiscretos e preconceituosos, que advêm maioritariamente do desconhecimento desta problemática e do receio de contágio. Isto faz com que a auto-estima seja afetada, como acontece com a maioria dos psoriáticos.
É a doença dos três nãos – não mata, não se cura e não é contagiosa
No meu caso, por exemplo, isso passou pelo uso de dois pares de collants, uns deles de descanso para serem mais espessos e esconderem melhor esta situação.
SAPO Lifestyle: A sociedade é uma barreira?
Catarina Figueiredo: Sem dúvida. Como tenho vindo a referir é um dos principais problemas que uma pessoa com psoríase enfrenta, já que, se houvesse conhecimento, tudo seria diferente. Nunca mais me esqueci das palavras da dermatologista quando fui diagnosticada: é a doença dos três nãos – não mata, não se cura e não é contagiosa. Estes são os motivos que permitem entender a extrema importância desta campanha e da sua difusão pela sociedade.
SAPO Lifestyle: Em que consiste a campanha Catarinalândia?
Catarina Figueiredo: A Catarinalândia tem duas vertentes: inicialmente, durante dois meses, apresentaremos excertos do diário que escrevi e que apresenta o meu dia-a-dia e a forma como lido com o facto de “nevar” quase todo o ano em Catarinalândia. Durante estes dois meses, pretende-se que, quem lê o meu diário, se identifique e entenda que, apesar de esta situação poder causar alguns constrangimentos, é possível conviver com ela e aceitá-la como algo que faz parte de nós.
Além disso, “quando se alimenta uma criança de amor, os pesadelos morrem à fome”. Esta ideia levar-nos-á às escolas com o intuito de dar a entender às crianças o que é a psoríase e como poderão aprender, não só a aceitá-la, mas também a lidar com ela, caso um dia surja nas suas vidas.
Campanha nacional
A Associação Portuguesa da Psoríase (PSO Portugal) lançou no Facebook a campanha "Catarinalândia – Uma miúda cheia de vida e alguma Psoríase", uma iniciativa que decorre até 28 de maio e que pretende desmistificar a doença.
Diariamente são publicados excertos ilustrados do diário escrito por Catarina ao longo dos anos descrevendo as emoções e constrangimentos causados pela doença, da entrada na idade adulta, no início da vida profissional e em ocasiões do quotidiano. Através da partilha de diferentes abordagens sobre a psoríase, a iniciativa alerta para as implicações diárias da doença na qualidade de vida, bem-estar, autoestima e vida familiar, escolar e profissional.
Inimigo silencioso
Para Jaime Melancia, presidente da PSO Portugal, "os jovens em período de formação da personalidade afetados pela psoríase sofrem muito com o impacto social da doença, pelo que o testemunho atento e simultaneamente humorado da Catarina será um estímulo positivo para quem está perante este desafio. A psoríase é um inimigo silencioso, mas bem visível, que afeta todas as camadas sociais, géneros, idades e estratos sociais".
A psoríase atinge entre 1% a 3% da população e calcula-se que existam entre 150 a 200 mil doentes com psoríase em Portugal. Apesar de crónica, não é mortal nem contagiosa. Apresenta-se geralmente sob a forma de lesões avermelhadas na pele, espessas e descamativas, que podem chegar a ser muito evidentes. Este facto faz com que 71% dos doentes assumam que a doença tem um impacto negativo na sua autoestima, pois subsistem ideias pré-concebidas relativamente à pele com psoríase que os remetem para situações de desintegração social e profissional.
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