“Achamos que não é pedir a lua, sabemos que muito dificilmente é recusável por parte do Governo. O Governo ficou de analisar esta situação e cá estaremos na terça-feira para, de uma vez por todas, (…) o Governo perceba que é preciso fazer alguma coisa para antes da tomada de posse do próximo Governo se consiga mitigar o gravíssimo problema que o SNS atravessa”, disse Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do SIM, aos jornalistas, à saída da reunião no Ministério da Saúde, que voltou a terminar sem acordo.

O encontro de ontem, em Lisboa, que era suposto ser a última reunião negocial de um processo que se arrasta há 19 meses, tem, afinal, continuidade na próxima semana, com nova reunião — “a última das últimas reuniões” – marcada para terça-feira, à tarde, pelas 14:00, segundo o dirigente sindical que a considerou “um sinal que ainda é possível” chegar a acordo.

“Infelizmente o Governo não aceitou essa proposta, ficou de a analisar. Apesar de tudo houve uma evolução, que foi passar de 16,61 euros à hora para 18,61 euros à hora. É aquilo que o Governo nos apresentou como aproximação àquilo que tem sido a nossa proposta de grelha salarial”, referiu, sublinhando que a proposta representa um aumento de 7,8% no valor/hora pago aos médicos, aquém da contraproposta de 15%, e insistindo que o SIM quer “chegar a um acordo responsável”, que os seus associados queiram assinar.

Para Roque da Cunha, se não houver acordo na próxima reunião “quem irá perder são os portugueses”, desde logo no acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), com as condições a agravar-se, e com a saúde a servir de “arma de combate político” na campanha eleitoral “em vez de se procurar um consenso essencial entre os partidos” para valorizar o trabalho dos médicos.

“Não exigimos efeitos retroativos, podíamos ter feito, não entrámos nesse populismo. Não somos um sindicato de populismo, de alimentar o descontentamento, de aumentar a gritaria, de propor situações que o Governo de maneira nenhuma poderá aceitar. Estamos aqui com ponderação e com sentido de responsabilidade, porque, de facto, o problema é grave. Poderíamos aproveitar esta situação de fragilidade do SNS para criar ainda mais problemas. Nós não. Queremos mesmo muito, muito, muito, chegar a um acordo”, disse, sem se referir à Federação Nacional dos Médicos (Fnam), também na mesa negocial, e que se tem mantido intransigentemente na reivindicação de aumentos de 30%.

Roque da Cunha recusou divergências com a Fnam “em relação ao que é essencial” e sublinhou a “convergência na discordância da proposta do Governo”.

“Com certeza que se houver capacidade da parte do Governo de fazer uma aproximação a estes valores, não falarei pelos nossos colegas da Fnam, mas seria muito pouco razoável junto dos nossos associados rejeitarmos uma proposta que se aproximasse dos 15%”, disse, recusando também greves nacionais com o Governo em gestão, uma vez que sem interlocutor o SIM considera que “não faz grande sentido”.

Sobre as propostas relativas a horários de trabalho, o secretário-geral do SIM disse que o executivo entende não ter condições políticas para manter o compromisso da passagem das 40 para as 35 horas semanais em dois anos, nem reduzir o turno de urgência das 18 horas para 12 horas.

“Compreendo em termos políticos, mas a nossa proposta é que mesmo assim possa haver uma redução de duas horas, das 40 para as 38 horas semanais e das 18 para as 16 horas nos serviços de urgência”, disse o dirigente sindical.

Roque da Cunha lamentou ainda o tempo decorrido desde o início das negociações: “Naturalmente que este tempo que foi perdido na negociação durante o Governo socialista, nos entristece, nos indigna, mas é como é a vida e não estamos aqui para estados de alma, estamos para defender os nossos colegas e o SNS”.