Ana Isabel Rodriguez, 30 anos, estudou medicina na Universidade do Rosário, em Bogotá, na Colômbia, e é um dos 42 médicos colombianos que desde abril trabalham em Portugal. Acha que ser médica aqui é muito mais fácil.

A porta do seu gabinete de consulta, na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados da Charneca da Caparica, em Almada, já tem uma placa com o seu nome.

A médica está em Portugal “há um mês e uma semana”. Contou à agência Lusa que está satisfeita com o país e com o trabalho, mas triste com a polémica que a vinda de clínicos colombianos para os centros de saúde com maior carência de médicos de família tem gerado.

“Sinto-me incomodada, sinto que é um ataque a nós, sinto que [alguns médicos] não nos querem aqui. Preocupa-me que o que leio nos jornais e o que vejo nas notícias a respeito da nossa vinda possa afetar o que os doentes pensam”, afirmou.

Ana Rodriguez leu no jornal que os médicos colombianos não estavam preparados nem tinham experiência. Discorda em absoluto. “Isso não é verdade. Temos muita experiência. E temos que trabalhar muito na Colômbia, vemos muitos doentes por dia e muitas coisas graves, muito mais graves do que aqui”, acrescentou.

Em Bogotá, a trabalhar como médica de clínica geral e médica de família dava consultas, fazia atendimento nas urgências, partos e cirurgias. Aqui em Portugal, considera, “o trabalho é muito mais fácil”.

Há mais tempo para cada doente, trabalha menos horas e as pessoas são mais “simpáticas” e “respeitadoras”.

No início houve o problema da língua. Ana não compreendia bem os portugueses. Na Colômbia teve aulas com um professor brasileiro e quando aqui chegou o ouvido notava muito a diferença de sotaques.

“As pessoas percebiam-me mas eu ficava nervosa porque não as percebia. Agora o ouvido habituou-se e já não há problema. Quando eu digo alguma coisa mal os doentes ensinam-me”, riu-se.

Ana ficou também surpreendida com os impostos que tem que pagar em Portugal. Disse à Lusa que “pensava que vinha ganhar mais”. Quando a convidaram falaram-lhe em 3.200 euros brutos. Depois em 2.800.

“O que eu não sabia era que o Governo fazia tantos descontos aos ordenados. Pensei que ficaria com 2.500 euros. Afinal fico com 1.800”, disse, sublinhando depois que isso não é muito relevante, que está “pela experiência”.

Os doentes também parecem satisfeitos. Claudineia Quintal, 30 anos, e a sua filha, de 15, naturais de Minas Gerais, no Brasil, e a viver em Portugal há cinco anos, estiveram 15 minutos dentro do gabinete da médica: “Foi muito rápido e a médica foi muito delicada e atenciosa. Comunicámos muito bem. Acho melhor que fossemos ao hospital”, disse.

A médica disse ainda que conhece os colegas que chegaram em abril e os outros 40 que o ministério da Saúde já anunciou que virão. Aplaude a iniciativa: “Eu sei que era melhor que os portugueses pudessem ter médicos do seu país, mas nós também somos médicos com muita experiência e queremos fazer um bom trabalho social com as pessoas. É uma boa experiência para todos”, acrescentou.

 18 de maio de 2011

Fonte: Lusa/SAPO