A psoríase afeta tanto homens como mulheres, estando mais associada a pessoas de pele clara. É uma patologia com uma forte propensão hereditária: um terço dos casos diagnosticados tem história clínica familiar de psoríase. No entanto, qualquer pessoa pode ter um surto sem existir qualquer antecedente. Não existe cura para a doença. As terapêuticas disponíveis contribuem para controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.

Fomos saber mais sobre esta doença com o médico Tiago Torres, dermatologista e especialista na doença.

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Quais são os sintomas da psoríase? 

Tiago Torres: A psoríase é uma doença inflamatória crónica, imuno-mediada associada a uma marcada diminuição da qualidade de vida dos doentes e dos conviventes. Clinicamente, caracteriza-se por placas eritemato-descamativas envolvendo preferencialmente os cotovelos, os joelhos, a região lombo-sagrada e o couro cabeludo, associando-se frequentemente a prurido que pode ser intenso.

A extensão e gravidade da psoríase é muito variável, podendo apresentar desde formas ligeiras e localizadas, controladas com terapêuticas tópicas, até casos extensos, por vezes associados a comprometimento articular que necessitam de terapêutica sistémica oral ou injectável.

As manifestações desta doença ocorrem só na pele?

Tiago Torres: Não. É amplamente reconhecido que a psoríase é uma doença que vai para além da pele, associada a múltiplas comorbilidades, incluindo cardiovasculares (diabetes, obesidade, hipertensão arterial e doença cardiovascular), articulares (artrite psoriática) e psicológicas (depressão e ansiedade). Por esta razão a abordagem do doente com psoríase deve ser global, tratando não só a componente cutânea, mas também as doenças associadas.

Assim, a abordagem do doente com psoríase é muitas vezes multidisciplinar, com o dermatologista a desempenhar um papel central e fundamental, mas muitas vezes com o apoio e participação de cardiologistas, endocrinologistas, reumatologistas, entre outros.

A psoríase afeta quantos portugueses? 

Tiago Torres: A prevalência da psoríase na população ocidental é de aproximadamente 2%, afetando de igual forma homens e mulheres. Estima-se que em Portugal afete entre 150.000 a 250.000 portugueses. Cerca de 30% dos casos de psoríase iniciam-se antes dos 18 anos, representando aproximadamente 4% de todas as doenças de pele em idade pediátrica. Entre 30 a 40% dos doentes desenvolvem artrite psoriática, uma forma de doença inflamatória articular.

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Existem fatores de risco?

Tiago Torres: Na psoríase observa-se uma desregulação do sistema imune, com a ativação de múltiplas vias inflamatórias e a inibição de vias reguladoras, que culminam com o desenvolvimento das lesões cutâneas características assim como de múltiplas comorbilidades que atualmente se sabe estarem associadas à psoríase, em particular cardiovasculares.

Não se pode verdadeiramente falar de fatores de risco. A sua causa é multifatorial, resultando da interação de fatores genéticos, imunológicos e ambientais. Estão descritos vários genes de suscetibilidade que, quando presentes, aumentam o risco de desenvolver psoríase. Em doentes geneticamente predispostos, a exposição a certos fatores ambientais, como por exemplo, infeções bacterianas, certos medicamentos, obesidade, stress, entre outros, promovem o desenvolvimento de psoríase.

Existe cura?

Tiago Torres: Atualmente, não existe, ainda, uma cura para a psoríase. No entanto, é possível tratá-la de forma eficaz, incluindo as formas mais graves, devolvendo aos doentes a qualidade de vida perdida com a psoríase. De facto, com os tratamentos disponíveis neste momento é possível na grande maioria dos doentes diminuir significativamente o impacto da doença no seu dia-a-dia tanto a nível psicológico como físico.

Tiago Torres, médico dermatologista, é responsável pela Consulta de Psoríase e pela Unidade de Ensaios Clínicos do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar do Porto. É ainda professor auxiliar convidado no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. É licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, doutorado pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto e desenvolve investigação na área da psoríase, nomeadamente estudando a sua imunogenética e associação com comorbilidades cardiovasculares.