24 de fevereiro de 2014 - 06h45

Há apenas três anos, num relatório sobre a qualidade do ar na China, o Institute of Public and Environmental Affairs (IPE) falava nas "partículas finas", mas sem utilizar o nome cientificamente consagrado das mesmas (PM2.5).   

"Quem é que sabia o que eram as PM2.5? Hoje, PM2.5 é um termo caseiro", disse o diretor do IPE, Ma Jun, em entrevista à agência Lusa em Pequim.

Ma Jun citou aquele pormenor para ilustrar a "rápida consciencialização" da opinião pública chinesa acerca das questões ambientais: "Esta é a maior mudança", realçou.

Organização não-governamental, com sede em Pequim, o IPE foi fundado em 2006, o ano em que Ma Jun integrou a lista das "100 personalidades mais influentes do mundo", elaborada pela revista norte-americana Time.

"Há dez anos, muitas pessoas ainda pensavam que a China era um país pobre e antes de pensar em proteger o ambiente precisava de desenvolver-se", afirmou Ma Jun.  

"A situação, agora, é muito diferente. Cada vez há mais pessoas a compreender que é essencial ter água boa, ar limpo e comida segura", acrescentou.  

Pelos padrões da Organização Mundial de Saúde, a densidade de PM2.5 - partículas finas que se infiltram facilmente nos pulmões - não deverá exceder os 25 microgramas por metro cúbico.  

Este fim de semana, em Pequim, o nível chegou a exceder os 300, tornando a atmosfera "gravemente poluída", e as crianças e idosos foram aconselhados a evitar atividades ao ar livre.

Trata-se de um indicador do domínio público porque no ano passado os
governos de 190 cidades chinesas começaram a avaliar a densidade de
PM2.5 e a divulgar os resultados de hora a hora.   

A inédita
transparência é considerada "um enorme progresso", mas o IPE, que já
registou cerca de 140.000 infrações ambientais pelo país fora, quer ir
mais longe e divulgar também a identidade dos poluidores.  

“Precisamos
de uma grande participação do público para ajudar a resolver o problema
da poluição. Os poluidores não têm motivação para mudar. Em vez de
resolverem o problema, preferem pagar as multas.  mais barato", disse Ma
Jun.  

Segundo o diretor do IPE, o Governo central também está
"mais preocupado" com a situação: "Não é apenas uma questão ambiental. 
um problema político, que preocupa a população e afeta a vida
quotidiana".  

Numa sondagem realizada há um ano em Pequim e seis
outras cidades, 60% dos inquiridos apontaram a poluição como uma das
"principais ameaças ao desenvolvimento" do país, a seguir à corrupção.   

Muitos
governos locais, pelo contrário, "ainda põem o crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) à frente da proteção ambiental", disse Ma Jun.

O
diretor do IPE é perentório: "O Governo central quer resolver o
problema, mas a implementação das políticas (ambientais) colide com
poderosos interesses instalados".   

Ma Jun referiu,
nomeadamente, as indústrias relacionadas com a extração do carvão: Só na
região em torno de Pequim, uma das mais poluídas do país, "será preciso
cortar mais de 80 milhões de toneladas no consumo anual de carvão",
exemplificou. 

Apesar do forte investimento nos recursos
hídricos, eólicos e solares, cerca de dois terços da energia consumida
na China assentam no carvão.     

SAPO Saúde com Lusa