A finalidade deste texto não substitui a procura de ajuda especializada. Pretende criar uma oportunidade de se falar sobre suicídio, de uma forma que o humanize, e com a partilha de possíveis exemplos de conversação. É certo que cada relação e diálogo pode ser diferente, mas esperamos que isto possa ser, pelo menos, um passo intermédio, a fim de tornar mais fácil a aplicação destas sugestões num contexto em que se conversa com um amigo ou familiar sobre suicídio, pois, afinal de contas, falar sobre suicídio não aumenta o risco de suicídio.

1. Não tenha medo de perguntar

Nem todos se sentem à vontade para falar de suicídio. Posto isto, importa ser direto o suficiente de modo a que a pessoa com quem se está a falar saiba o que se está a perguntar. Utilizar uma linguagem clara, como "Estou um pouco preocupado contigo, parece-me que ultimamente não te tens sentido bem. Tens tido pensamentos suicidas?", ajuda a normalizar o assunto. Se conseguir dar esse primeiro passo difícil para mostrar que se sente à vontade para abordar o assunto do suicídio, ajudará a mostrar que é uma pessoa de confiança com quem se pode falar.

Muitas vezes as pessoas tentam entrar no tema dos pensamentos suicidas com perguntas genéricas como "Como estás?" ou "Estás bem?". É muito mais fácil escapar a estas perguntas, ou dizer algo como "Estou bem", o que, por vezes, é usado para evitar entrar na complexidade do que realmente se está a passar. Usar a palavra suicídio pode ajudar a ultrapassar aquela barreira inicial que as pessoas sentem quando tentam proteger os seus entes queridos de cargas emocionais ou de conversas difíceis. Por outro lado, pode acontecer que as pessoas não estejam prontas para falar e tudo o que se pode fazer é dizer-lhes que se está disponível, se quiserem. Desde que tenha deixado esse ponto claro, fez tudo o que pode, pois não é sua a responsabilidade de garantir que alguém comece a falar num determinado momento.

Como reagir?

Em caso de ideação suicida ou se conhecer alguém em risco, procure um médico.

Em caso de emergência, ligue para o 112.

Mais contactos

Centro SOS-Voz Amiga (diariamente das 16h00 às 24hoo)

- 21 354 45 45

- 91 280 26 69

- 96 352 46 60

Linha Telefone Amigo (todos os dias das 17hoo à 01h00)

239 72 10 10

Linha Telefone Amizade (de segunda a quinta-feira das 16h00 à 01h00; sexta-feira e sábado das 19h00 às 21h00 horas)

- 800 205 535

2. Não tente solucionar a situação de imediato

É difícil resistir a tentar "consertar" alguém, especialmente quando se trata de alguém com quem se preocupa e que lida com algo tão sério como pensamentos suicidas. A responsabilidade de ser o único a cuidar do seu ente querido nunca lhe compete a si e saber que recursos pode oferecer e/ou indicar pode ser uma excelente forma de ajudar a dar esperança de que as coisas podem mudar. Mas é importante considerar a forma como mencionamos os recursos, porque, por vezes, a referência a um recurso pode ser mal interpretada, ao passar a ideia de que se sente desconfortável com a pessoa com quem está a falar, ou que sente que tem demasiados problemas, ou que quer fazer "a coisa certa" sem realmente querer estar presente durante o pior dos acontecimentos.

Saber que alguém se preocupa o suficiente consigo para se sentar quando está num lugar mau e não tentar mudá-lo, é das melhores coisas que se pode fazer. Isso pode ajudar a pessoa de quem se gosta a confiar que está segura consigo e a saber que não vai desistir mesmo que as coisas não melhorem de imediato. Aprender a lidar com pensamentos suicidas e outras questões de saúde mental que, muitas vezes, nos acompanham, pode ser um processo longo e mostrar-lhes que não vai desistir é incrivelmente poderoso e tranquilizador.

3. Torne-se acessível e vulnerável

Por vezes, o medo de incomodar os outros pode ser um fator que impede as pessoas de pedirem ajuda, quando precisam dela. É importante mostrar às pessoas que também nós estamos dispostos a correr o risco de sermos vulneráveis, podendo partilhar eventuais dificuldades ou fragilidades. Por exemplo, "Eu sei que ultimamente tens passado por um período difícil. No ano passado, também eu estava a passar por momentos difíceis, senti que nada do que fiz era suficientemente bom. Como te sentes?". Partilhar uma parte da nossa vida emocional mostra à outra pessoa que se é de confiança, que não é a única pessoa a lutar e que somos de confiança para falar de emoções dolorosas ou assustadoras, porque também já lá estivemos, porque, afinal de contas, somos humanos.

4. Seja honesta/o e conheça os seus limites

É perfeitamente legítimo que tenha certas situações em que se sente confortável e outras em que não se sente minimamente confortável. Pode ser muito difícil estar perto de alguém que se ama e que está a sofrer. Se não se sente à vontade para ter conversas emocionais profundas com demasiada frequência, tente propor algo que saiba que pode ajudar. Por exemplo, se a pessoa com quem está a falar passar tempo a ver filmes para enfrentar sentimentos de solidão, disponibilize-se para assistir em conjunto um filme. Se gostar de ir ao parque, ofereça-se para ir buscá-la/o e passearem. Qualquer que seja a forma que a sua relação assuma, ofereça apenas aquilo que acha que pode ajudar. Mostre que se importa e o que quer que faça, vai ser importante.

Apesar destes quatro passos importantes e que farão a diferença, é fundamental não esquecer que os pensamentos suicidas estão associados a quadros complexos que exigem ajuda especializada. Não adie o contacto com um profissional de saúde mental. Falar de suicídio, bem como de depressão, não é falar de uma qualquer “dor da alma”. A depressão é uma doença e tem tratamento.

Um artigo dos psicólogos clínicos Mauro Paulino e Rodrigo Dumas-Diniz, da Clínica MIND - Psicologia Clínica e Forense.