Vivemos tempos conturbados no panorama social, económico e político português. Prova disso é o constante mal-estar a que assistimos entre várias classes de profissionais. Devido a estes problemas são cada vez mais as famílias que recorrem a instituições de solidariedade social. Se por um lado assistimos a este aumento de necessidades, por outro lado assistimos ao desperdício de toneladas de alimentos por ano. No entanto, este tema continua a não ser prioritário para os nosso governantes, já que o combate ao desperdício alimentar não está presente nas propostas dos partidos políticos.
Em Portugal, estima-se que, anualmente, 1,8 milhões de toneladas de alimentos sejam desperdiçados. Isto equivale a mais de 180 kg por pessoa. Para além de serem números chocantes, este problema, tem um impacto ambiental significativo e representa um enorme custo económico e social para o país. O meu pedido é simples: mudar este paradigma! Como? É urgente que os partidos apresentem medidas concretas e ambiciosas para combater este flagelo e que integrem estas medidas nos seus programas eleitorais. Leis e projetos de lei que incentivem a produção sustentável, a redistribuição de alimentos excedentes e a compostagem são apenas algumas das soluções que podem ser implementadas. Para além disso, elenco abaixo um conjunto de tópicos que nos ajudarão a travar estes números:
1. Priorizar a Prevenção:
A prevenção do desperdício alimentar deve ser a pedra angular de qualquer estratégia. Os partidos devem propor medidas que incentivem a produção sustentável, a correta planificação das compras e a utilização de métodos de confeção que minimizem o desperdício.
2. Reduzir o Desperdício na Cadeia Alimentar:
É necessário criar mecanismos que facilitem a doação de alimentos excedentes por parte de produtores, distribuidores e restaurantes. A criação de plataformas digitais que conectem doadores a entidades de apoio social pode ser uma solução eficaz.
3. Educar e Sensibilizar:
A educação e sensibilização de todos, e de cada um, é fundamental para uma mudança de atitude e comportamento. Campanhas de informação e ações de sensibilização em escolas e comunidades podem contribuir para a criação de uma cultura de valorização dos alimentos.
4. Incentivar a Compostagem:
A compostagem dos restos de alimentos é uma forma eficaz de reduzir o impacto ambiental do desperdício. Acredito que os partidos podem ter um papel relevante ao incentivar a criação de infraestruturas de compostagem doméstica e comunitária.
5. Apoiar a Investigação e Inovação:
É necessário investir em investigação e desenvolvimento de novas tecnologias que contribuam para a redução do desperdício alimentar.
Em jeito de conclusão, defendo que o combate ao desperdício alimentar não é apenas um desafio ambiental, mas também uma questão de justiça social e económica. As eleições são a 10 de Março e representam uma oportunidade única para que os partidos políticos assumam um compromisso sério com esta problemática e apresentem medidas concretas para a sua resolução. Cabe aos cidadãos exigir que este tema seja uma prioridade na agenda política para 2024. Só ao implementar medidas como a introdução de um imposto sobre o desperdício alimentar, a criação de um programa nacional de compostagem, a obrigatoriedade dos restaurantes oferecerem opções de doggy bag (levar as sobras dos restaurantes para casa), a aposta em campanhas de sensibilização para a problemática do desperdício alimentar e o apoio a iniciativas de redistribuição de alimentos excedentes, é que Portugal poderá dar um passo significativo na luta contra o desperdício alimentar e contribuir para um futuro mais sustentável e justo.
Um artigo de opinião de Carlos Hipólito, Country Manager da Phenix Portugal.
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