Vivemos num mundo onde a tecnologia nos acompanha desde o momento em que acordamos até adormecermos. Os smartphones, projetados para simplificar a vida, tornaram-se tão centrais que, para muitos, são praticamente uma extensão do corpo. Com isso, surge a nomofobia, ou “no mobile phone phobia”, um medo acentuado de ficar sem acesso ao smartphone, de não poder comunicar ou aceder a informação. Estas situações podem ocorrer por exemplo por falta do aparelho, de bateria, de rede ou simplesmente se desligar o smartphone. Embora o termo tenha surgido em 2008, num estudo realizado no Reino Unido, a dependência digital e os impactos dessa condição só têm aumentado.

A nomofobia não é apenas uma questão de desconforto, é um problema de saúde mental. Quem sofre dessa fobia pode experienciar ansiedade intensa, irritabilidade, dificuldade de concentração e até sintomas físicos como palpitações. Estudos indicam que essa dependência muitas vezes está associada a fatores como baixa autoestima e solidão, o que poderá refletir um uso compensatório da tecnologia para evitar lidar com emoções negativas.

Outro ponto preocupante é como os smartphones afetam a nossa interação social. Um estudo realizado na Universidade Europeia revela que o “phubbing”, ou seja, interagir com o telemóvel e ignorar as pessoas à nossa volta, não só prejudica as relações interpessoais (incluindo amorosas) como intensifica a dependência do smartphone, sendo um fenómeno profundamente ligado à nomofobia. A pandemia de Covid-19 poderá ter exacerbado este problema, ao normalizar o uso do smartphone nos diferentes contextos da vida diária, incluindo trabalho, lazer e socialização. O que fazer, então, para regular a sua utilização?

Enquanto indivíduos, é essencial recuperarmos o controle sobre o uso destes dispositivos, os quais podem controlar as nossas vidas, modelar as nossas relações e até a saúde mental. Reconhecer a necessidade de períodos de desconexão durante o dia, não como um retrocesso, mas como uma oportunidade de reconectar com a realidade e as pessoas, é um ganho na direção do bem-estar psicológico.

Iniciativas educativas para difundir conhecimento baseado em evidência científica, promover o debate e a reflexão crítica, são cruciais para potenciar a sensibilidade individual e podem ser a chave para reverter os impactos negativos da nomofobia, do phubbing e do uso descontrolado do smartphone. Enquanto sociedade, não precisamos demonizar as tecnologias, mas robustecer a gestão do seu uso de maneira mais humanizada, consciente, participativa e responsável.

Um artigo de Inês Saraiva Ferreira, Psicóloga Clínica e da Saúde, Neuropsicóloga, Professora e Coordenadora de Psicologia na Universidade Europeia.