A ansiedade é, para muitas pessoas, absolutamente incapacitante. Durante muito tempo, quem experienciava ansiedade evitava colocá-la a nu e falar sobre ela. Agora, o paradigma mudou e todos nós deixamos que a ansiedade possa ser um tema, possa ser abordada e possa ser experienciada sem julgamento.

Esta mudança de paradigma é essencial para que a ansiedade perca a sua dimensão mais dolorosa e solitária. Ainda assim, a verdade é que apesar de ser mais fácil falar acerca de ansiedade, por vezes, também se torna mais doloroso para quem a sente lidar com ela. Isto porque apesar de a ansiedade ser um tema da ordem do dia, vemos de forma regular fórmulas mágicas serem espalhadas nas redes sociais e informativas que prometem solucionar a ansiedade, que prometem resolver o problema de forma rápida e em poucos passos.

Essas fórmulas até podem ajudar a regular pequenas ansiedades associadas ao dia a dia, mas não ajudam quando falamos de uma ansiedade clínica, muitas vezes acabando por acentuá-la.

Este fenómeno dá-se porque quando alguém experimenta essas diversas dicas, muitas vezes, ao perceber que em si não está a resultar, amplifica a sua ansiedade. Quando este cenário se dá, as pessoas tendem a sentir-se desenquadradas e a sentir que consigo as coisas não resultam como parecem resultar com os outros e como quem vende essas fórmulas promete. Logo se só consigo é que não resulta, a sensação de que a pessoa tem um defeito de fabrico intensifica-se, o medo de nunca resolver a ansiedade também e a ansiedade parece ganhar uma dimensão muito maior na vida da pessoa.

No fundo, é importante termos consciência que a ansiedade  como a maioria das patologias ao nível da saúde mental  apresenta diversos graus de intensidade e, por isso, nem todas as ansiedades, ou ataques de pânico, se resolvem ou são travados de forma simples, imediata e através de dicas comportamentais simples.

Sempre que se vende estas fórmulas como sendo capazes de travar uma crise de ansiedade ou um ataque de pânico, estamos a intensificar a dor de quem sofre clinicamente de ansiedade, porque ao aperceber que consigo não resulta, mais frustração existe, mais desconforto e menos crença numa mudança efetiva.

Essas dicas podem ser úteis para pessoas saudáveis, que pontualmente se sintam ansiosas, mas a transformação psicológica que leva à redução de um quadro clínico de ansiedade exige esforço, exige terapia e exige que cada pessoa se disponibilize a pensar sobre si, sobre a sua história de vida e sobre tudo aquilo que pode estar a encruzilhar-se para gerar este quadro de ansiedade. É, por tudo isto muito importante que todos tenhamos consciência de que a cura da ansiedade nãé rápida, simples e milagrosa e exige sempre que a pessoa se permita a olhar para a ansiedade de frente e a desconstruí-la. 

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.