A parentalidade é, desde cedo, vendida como mágica, como ‘o melhor do mundo’ e o destino de ‘quase todos nós’. E sim, a parentalidade tem muitos lados floridos, leves e positivos. Mas não, nunca será apenas isso, nem nunca devemos ser pais, porque é o caminho que todos nos indicam.
É, nesta ratoeira entre o ‘deves ser pai’ e todos os seus lados cor-de-rosa, que, logo desde o período de gravidez muitos pais se vêem presos numa encruzilhada, numa encruzilhada de questões e principalmente de culpabilidade. E, se as questões fazem os pais repensarem e crescerem enquanto pais, o mesmo não se pode dizer da culpabilidade. A culpabilidade deixa os pais presos aos seus medos, estagnados na sua capacidade de se reinventarem e, regra geral, a deslizarem em diversas tentativas de fazer diferente.
É, por isso, muito importante que, em primeiro lugar sejamos mais realistas quando falamos da parentalidade e de tudo aquilo que ela implica, porque implica um grande jogo de cintura para conciliar tudo aquilo que se é, com uma criança e - se todos formos mais realistas - as expectativas estão mais equilibradas e, naturalmente, tudo fluirá de melhor forma.
Em segundo lugar, é essencial que deixemos de acreditar que há fórmulas certas e mágicas para todas as crianças e para todos os pais. É nessas fórmulas mágicas que os pais esbarram com a culpa, seja porque a criança usa chupeta, seja porque começa a andar mais tarde que o pré-estabelecido, por exemplo. É essencial que todos tenhamos presente que, apesar de haver indicadores base essenciais a todas as crianças, nem todas terão o mesmo ritmo, nem todos os pais precisam - e conseguem - fazer da mesma forma.
Cada criança tem o seu próprio ritmo, cada criança tem as suas próprias necessidades e, cada pai à sua maneira, tem uma forma de ser e de estar enquanto pai. Essa é uma das magias da parentalidade, serem todos diferentes, desde que autênticos e com a consciência de que estão a dar o melhor de si e a correponder quer às necessidades da criança, quer às suas próprias necessidades enquanto pais.
E nesta dança da parentalidade, nem sempre será fácil atingir a sintonia, por vezes, é necessário levantar questões, pensar ativamente no que pode ser feito diferente e até pedir ajuda. Mas, nesta dança há um elemento que acabará sempre por contaminar e por ser prejudicial, a culpa! É por isso, essencial que cada pai procure ativamente libertar-se dela, para, a partir daí, viver a parentalidade em pleno e sendo cada vez melhor pai.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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