Enquanto adultos, todos nós carregamos uma bagagem da nossa infância que pode ser mais ou menos positiva, mas que - invariavelmente - nos vai marcar e, eventualmente, condicionar nas experiências e desafios que vamos enfrentando.

A infância por ser uma fase tão rica e, ao mesmo tempo, tão frágil, implica experiências emocionais intensas e vivências que nos levam a criar padrões de funcionamento emocional, relacional e social que acabam por ter tendência a acompanhar-nos pela vida fora.

Um exemplo paradigmático da forma como a infância se vai reproduzindo na fase adulta de uma forma, muitas vezes, inconsciente, é a parentalidade, quando - de repente - alguém percebe que está a reagir aos estímulos do seu filho, tal e qual como um dos seus pais reagia aos seus próprios estímulos. Outro exemplo, são as relações, quando de repente uma pessoa se apercebe que parece estar a relacionar-se com alguém de forma muito similar a um dos seus próprios pais.

No fundo, aquilo que acontece é que vamos absorvendo na infância aprendizagens e formas de ser que acabam por nos moldar e  acompanhar. Este cenário só por si não é necessariamente mau e, muitas vezes, trazemos da nossa infância uma riqueza inigualável e que, de facto, queremos preservar. Ainda assim, também é comum carregarmos bagagem da qual seria mais simples - e seríamos mais felizes - se nos libertássemos dela.

O libertar dessa bagagem é um grande desafio para todos nós, porque implica um autoconhecimento fora do vulgar, que nos permite conhecermo-nos a nós próprios, tomarmos consciência dos nossos padrões e, mais difícil ainda, sermos capazes de filtrar aquilo que queremos manter e aquilo que queremos deitar fora.

Este exercício é exigente porque falamos de padrões que nos acompanham da infância, que, regra geral, são padrões que estão entranhados em nós, por isso, tendemos a desculpabilizá-los e a confundi-los com a nossa essência, quase num registo de ‘não é defeito é feitio’. A verdade é que não importa se é defeito ou se é feitio, o importante é que se não está a ser funcional e positivo para a pessoa que somos atualmente, é sinal que precisa de transformação.

Lembremo-nos sempre que a nossa infância vai acompanhar-nos para sempre, no entanto, nós temos o poder de filtrar a forma como ela nos condiciona, ou não, pela vida fora.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.