
Para muitos portugueses, um sono não reparador é uma realidade, especialmente para aqueles que sofrem de Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). A SAOS traduz-se por episódios repetidos de obstrução total ou parcial da via aérea durante o sono (apneias ou hipopneias), com consequente fragmentação do sono. É um dos distúrbios de sono mais prevalentes com valores que podem rondam os 10-40% na população geral, valores muito dependentes da metodologia usada.
Em Portugal não temos ainda estudos populacionais para saber a prevalência da doença. Os estudos que foram desenvolvidos sugerem ainda um subdiagnóstico da doença no nosso país.
São vários os factores de risco associados à doença, como álcool, tabaco, alterações anatómicas craneofaciais, idade acima dos 45 anos e medicação sedativa. A obesidade é o grande factor de risco da SAOS e por isso a maior causa do aumento da prevalência da doença.
Os sintomas podem ser divididos em sintomas noturnos e sintomas diurnos. A roncopatia, sensação de sufocação noturna e apneias presenciadas pelo companheiro/a do doente são o tríade de queixas noturnas mais frequentes, sendo por isso os familiares mais próximos os primeiros a alertar para a doença. Outras queixas referidas são os despertares noturnos e sonhos vividos. As queixas diurnas mais frequentes são o acordar cansado de manhã, irritabilidade, flutuações do humor, problemas de memorização e sonolência diurna excessiva com o consequente impacto a nível laboral e de acidentes de viação.
A apneia de sono representa um fator de risco independente de problemas cardiovasculares importantes como a hipertensão arterial, arritmias, doença coronária e acidentes vasculares cerebrais.
O diagnóstico é feito com recurso a uma polissonografia (um estudo do sono), que pode ser realizado em regime hospitalar ou em casa, dependendo do caso clínico.
Os tratamentos envolvem várias modalidades conforme a gravidade e as características individuais do paciente, e cujo objetivo é manter a patência da via aérea durante o sono. As opções incluem:
- A perda de peso, em pacientes com excesso peso e obesidade, deve ser encorajado;
- Tratamento com Pressão Positiva na Via Aérea (CPAP) é o tratamento recomendada de primeira linha para o SAOS moderado-grave. O CPAP é um dispositivo que utiliza uma máscara ou almofada nasal conectada a uma máquina que fornece ar a uma pressão constante para manter as vias aéreas abertas enquanto o paciente dorme. É um tratamento eficaz no controle sintomático, nomeadamente na sonolência diurna excessiva. Estudos mostram também o benefício do controlo da hipertensão arterial. A adesão ao tratamento é fundamental.
- Dispositivos de avanço mandibular podem ser recomendados em casos selecionados de doentes com SAOS ligeiro, ou SAOS moderado ou grave que não se adaptem ao tratamento CPAP.
- Intervenções cirúrgicas, como cirurgia de avanço maxilomandibular, podem ser propostos em casos selecionados de alterações craneofaciais passíveis de correção.
- Medidas gerais: evitar o consumo de álcool e sedativos, evicção tabágica, e promover sono adequado são medidas complementares recomendadas.
O síndrome de apneia obstrutiva de sono, quer pela sua prevalência quer pelas suas consequências cognitivas e cardiovasculares, deve ser encarada como um problema de saúde pública. O índice de suspeição deve ser elevado com encaminhamento dos doentes suspeitos para uma consulta de medicina do sono. É importante por isso a consciencialização para os distúrbios de sono, nomeadamente a SAOS, quer na população geral mas também de todas as especialidades médicas para um diagnóstico e tratamento atempado, e desse modo melhorarmos a qualidade de vida do doente.
Um artigo de Daniela Ferreira, Pneumologista e Presidente da Associação Portuguesa do Sono.
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